A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE MALÁRIA. PAPEL DO LABORATÓRIO NO DIAGNÓSTICO

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 028

Autores e Afiliações:

Nadezda Kochetkova, Rui Santos Freitas, Margarida Tomas, Paula Mota

Patologia Clínica Hospital de Senhora de Oliveira, Guimarães

Introdução

A malária continua a ser uma doença infeciosa importante, responsável por uma alta taxa de morbidade e mortalidade no mundo.

A sua prevenção baseia-se na proteção contra picadas de mosquito e na quimioprofilaxia. Atualmente não existe nenhuma quimioprofilaxia completamente eficaz, estando em estudo várias vacinas contra a malária.

Nos indivíduos que fazem profilaxia, o período de incubação pode ser significativamente mais prolongado e a sintomatologia mais leve.

A imunidade clínica contra a malária (proteção contra os sintomas da doença) desenvolve-se mais rapidamente do que a imunidade contra o parasita, tornando um individuo portador do mesmo sem sintomas, isto é, há controlo da doença, apesar de esta não poder ser totalmente evitada.

Caso clínico

Homem 36 anos, previamente saudável, residente em Portugal. Regressou de Angola há oito meses, onde esteve 3 semanas, tendo cumprido a profilaxia com esquema de Mefloquina. 
Recorreu ao serviço de urgência (SU) por quadro febril durante o período noturno (hipertermia de 39.6ºC, que cedia com Paracetamol), com 6 dias de evolução, sem outras queixas. 

Exame objetivo sem alterações. 

Estudo analítico solicitado: hemograma, avaliação de função renal e hepática, pesquisa de Sars-CoV-2.

Na validação do resultado do hemograma o Patologista verificou a presença de trombocitopenia de 90000/µL. De acordo com as regras protocoladas no serviço solicitou a realização do esfregaço de sangue periférico (ESP). Tendo observado a presença de eritrócitos parasitados por Plasmodium spp (P.) em diversos estádios de desenvolvimento (nomeadamente trofozoítos maduros e esquizontes imaturos) morfologicamente compatíveis com P. ovale.

A pesquisa de antigénio (Ag) (P. falciparum/P. vivax/P. malariae/P. ovale) por teste rápido de diagnóstico (TRD) (PAULOTOP Optima, BIOSYNEX S.A., França) deu resultado negativo. 
Foi decidido calcular parasitémia, que deu 1%.

Analiticamente destacou-se hemoglobina (Hb) 12,4 g/dL, bilirrubina total (BT) 1.29 mg/dL, bilirrubina direta (BD) 0.45 mg/dL, desidrogenase lática (DHL) 304 UI/L, proteína C reativa (PCR) de 156 mg/L.

O doente foi internado com diagnóstico de malária não complicada para tratamento com Artemeter e Lumefantrina.

Ao 3º dia de terapêutica o doente já não evidenciava parasitémia no ESP. Apresentava melhoria clínica e analítica evidentes, com PCR em perfil descendente, sem trombocitopenia, embora tendo anemia de 8,9 g/dL.

Conclusão

Portugal deixou de ser uma área endémica de malária, contudo os casos importados da doença tendem a aumentar devido à mobilidade de pessoas. 

O diagnóstico por exame microscópico, através de observação do ESP, é considerado o método padrão, uma vez que possibilita a distinção e quantificação dos parasitas, sendo sensível e específico. Os TRDs têm demostrado elevada sensibilidade e especificidade para a infeção por P. falciparum, mas são limitados no diagnóstico das outras espécies, possivelmente devido uma baixa concentração de antigénio circulante.

O diagnóstico rápido é essencial para o tratamento eficaz da doença, prevenindo a deterioração do estado do paciente e neste caso a proatividade do Patologista Clínico foi determinante.

 

Declaração de Conflito de Interesses 

Para os devidos efeitos declaramos que não existem conflitos de interesses na realização do presente trabalho.