BACTERIÉMIA DE ETIOLOGIA RARA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
Evento: SPPC 2021
Poster Número: 060
Autores e Afiliações:
Sandra Paulo 1, Teófilo Yan 2, Catarina Santos 2, Mariana Martins 1, Ernesto Rocha 2;
1-Serviço de Patologia Clínica-ULSCB,
2-Serviço de Nefrologia-ULSCB
Introdução
As bactérias do género Enterococcus sp. são cocos gram positivos facultativos presentes na flora normal gastrointestinal humana e de outros animais. Para além de serem um agente etiológico de infeções na comunidade, são cada vez mais associadas a doenças nosocomiais, nomeadamente bacteriémia, infeção do trato urinário e infeções intra-abdominais, tendo a sua incidência aumentado na última década. O Enterococcus faecalis (E. faecalis) e o Enterococcus faecium (E. faecium) são as espécies mais comuns deste género associadas a infeções.
Caso Clínico
Homem de 79 anos, caucasiano e parcialmente dependente nas atividades diárias. Com antecedentes pessoais de insuficiência cardíaca e hipertensão arterial, doença renal crónica (DRC) estadio 4, com creatinina basal 2.8 mg/dL, rim único vicariante e neoplasia da próstata sob quimioterapia. Da medicação habitual, destaca-se Irbesartan/hidroclorotiazida, Nifedipina, Tapentadol, Ciclobenzaprina e Silodosina. Recorreu ao Hospital por dor lombar, perda ponderal com evolução de 6 meses e astenia. Por agravamento da função renal, foi transferido para o Serviço de Nefrologia de referência para sua área de residência. No contexto do quadro clínico e por apresentar febre de novo, foi solicitado estudo analítico, incluindo estudo microbiológico. Foi medicado empiricamente com ceftriaxone durante 8 dias.
Do estudo analítico destaca-se leucocitose (12.200/µL), com neutrofilia (10.050/µL) e Proteína C-Reativa 66.3 mg/L. Relativamente ao estudo microbiológico, foram incubados dois sets de hemocultura (sistema BD BACTEC®), sendo reprocessados, após deteção de crescimento, por cultura em meio Gelose de Sangue (GS) e Manitol Salgado (Biomérieux®) – incubação em aerobiose a 37°C. Após 24h, apenas se observou crescimento de colónias pequenas mucóides esbranquiçadas com pequeno halo de β-hemólise em GS. Foi também realizada urocultura em meio cromogéneo UriSelectTM (Bio-Rad®), que revelou colónias cor de rosa, bordo regular e pouco mucóides, com critérios de valorização, às 24h de incubação a 37°C, em aerobiose.
Utilizando o sistema MicroScan WalkAway® (Beckman Coulter), identificou-se o microrganismo Enterococcus durans (E. durans) a partir das colónias isoladas de GS (sets de hemocultura), sensível a ampicilina, ciprofloxacina e vancomicina e resistente a penicilina e tetraciclina. Da mesma forma, identificou-se a bactéria Escherichia coli (urocultura), multi-sensível, destacando-se a sensibilidade a ampicilina e cefuroxime. A disponibilização dos resultados permitiu a reavaliação da terapia inicial, pelo que o paciente iniciou antibioterapia dirigida com ampicilina. Apresentou melhoria clínica e analítica progressivas e teve alta ao 11º dia de internamento.
Conclusão
As manifestações de infeções por E. não-faecalis e E. não-faecium são muito semelhantes às das infeções provocadas por estes microrganismos. O E. durans é um agente etiológico raro de infeções no homem. Estas infeções são mais frequentes em pacientes imunocomprometidos, com casos descritos de bacteriémia, endocardite e pielonefrite. Embora raras, a incidência de infeções por este tipo de microrganismos tem aumentado, especialmente em pacientes com várias comorbilidades. Este caso clínico é um exemplo da importância do Serviço de Patologia Clínica no diagnóstico e terapêutica e de colaboração entre serviços clínicos.
Os autores declaram não ter conflito de interesses.