CARATERIZAÇÃO DE AGENTES ISOLADOS EM HEMOCULTURAS DE DOENTES DURANTE A PANDEMIA COVID-19

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 030

Autores e Afiliações:

Rita R Lima 1, Joana Vaz Cardoso 2, Luís Silva 1, Virgínia Lopes 1, Maria Helena Ramos 1, Rui Sarmento e Castro 2

1 – Serviço de Microbiologia, Departamento de Patologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto;

2 – Serviço de Doenças Infeciosas, Departamento de Medicina, Centro Hospitalar Universitário do Porto

INTRODUÇÃO

As infeções da corrente sanguínea são responsáveis por elevada morbilidade e mortalidade hospitalar, nomeadamente em unidades de cuidados intensivos (UCIs). Assim, o estudo de hemoculturas (HC) é essencial na abordagem do doente crítico, permitindo a identificação de agentes causadores de infeções graves e tratamento antimicrobiano adequado. Os microrganismos mais frequentemente isolados pertencem à família das Enterobacterales e ao género Staphylococcus. A Candida albicans (C. albicans) tem sido o fungo leveduriforme (FL) mais implicado, com um aumento de outras espécies de Candida nos últimos anos. A literatura reporta um aumento na taxa de recuperação (TR) no período da pandemia, traduzindo uma maior incidência de infeções da corrente sanguínea.

OBJETIVO

Avaliar as taxas de recuperação e de contaminação das hemoculturas colhidas em UCIs, caraterizar os microrganismos isolados e o perfil de resistência aos antimicrobianos durante a pandemia COVID-19, assim como comparar os resultados com os dados obtidos durante o mesmo período de tempo correspondente ao ano antecedente à pandemia.

METODOLOGIA

Análise retrospetiva, dos dados obtidos no estudo das HC colhidas por punção venosa e/ou cateter venoso central em UCIs, relativa aos agentes isolados e seu perfil de suscetibilidade, de janeiro a abril de 2019 e de janeiro a abril de 2021. Dados clínicos, o número de sets positivos no mesmo episódio, o tipo de microrganismo e antibiograma, foram critérios utilizados na análise das taxas de recuperação e de contaminação.

RESULTADOS

No período da pandemia foram estudadas 1162 HC, obtendo-se uma TR de 14,7% e uma taxa de contaminação (TC) de 5,7%. Nas verdadeiras infeções, foram isolados 100 agentes, dos quais 56 bacilos gram negativo (BGN), 31 cocos gram positivo (CGP) e 13 FL. O microrganismo mais isolado foi a Klebsiella pneumoniae (N=18), apresentando uma taxa de resistência (R) de 44% à amoxicilina/ácido clavulânico (A/C), 39% à piperacilina/tazobactam (P/T) e 22% de estirpes produtoras de beta-lactamases de espetro alargado (ESBL). O Staphylococcus aureus (S. aureus) foi o segundo agente mais isolado (N=9), sendo 11% R à meticilina. A C. albicans (N=4) e a Candida parapsilosis (N=4) foram os FL mais frequentes. No período controlo foram colhidas 1062 HC observando-se uma TR de 7,4% e TC de 3,0%. Obtiveram-se 49 isolados dos quais 30 BGN, 15 CGP e 4 FL, sendo os principais agentes a Escherichia coli (E. coli) (N=9) e o S. aureus (N=9). A E. coli apresentava 56% R à A/C e 11% R à P/T. Relativamente ao S. aureus observou-se 45% R à meticilina. A C. albicans foi o FL mais isolado (N=3). Em ambos os períodos estudados, os microrganismos contaminantes foram maioritariamente Staphylococcus coagulase negativo.

CONCLUSÕES

Tal como descrito na literatura, no período da pandemia, a TR e TC foi superior, sendo os agentes da família Enterobacterales, seguido de S. aureus os principais agentes de infeção da corrente sanguínea. A C. albicans foi um dos principais FL implicados, verificando-se ainda um aumento das infeções por agentes do género Candida. 

 

Declaração de conflitos de interesse: Os autores declaram não apresentar quaisquer conflitos de interesse.