DOENÇA DE GAUCHER-UMA DOENÇA RARA COM ACHADOS MORFOLÓGICOS ATÍPICOS

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 033

Autores e Afiliações:

Elisete Garcia, Cátia Fortes, Carlos Seabra, Elmano Ramalheira

Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar do Baixo Vouga

Introdução

A doença de Gaucher (DG) é uma doença hereditária autossómica recessiva, causada por mutações no gene GBA1 que codifica a enzima lisossómica glucocerebrosidase (GCase), responsável pela degradação do glicolípido glucocerebrosidio, provocando a sua acumulação dentro dos lisossomas celulares em múltiplos órgãos, como o baço, fígado, medula óssea e osso, causando diversas apresentações clínicas. É uma das patologias lisossómicas de armazenamento mais comuns.

Relato de caso

Homem de 75 anos previamente saudável desenvolveu trombocitopenia persistente (40–60 x 109/L). Negava queixas hemorrágicas e sintomas B. O baço era palpável 3cm abaixo da grade costal mas não apresentava adenomegalias. Exames complementares relevantes: trombocitopenia isolada (53 X 109/L) confirmada pela observação do esfregaço de sangue periférico, que não mostrou outras anomalias. LDH 145 U/L, ferritina 1252 ng/mL. Electroforese de proteínas, função renal e hepática sem alterações. Serologias víricas e estudo de autoimunidade negativos. A ecografia abdominal mostrou esplenomegalia de 155 mm de diâmetro.

Fez um ciclo curto de tratamento com prednisolona, sem resposta.

Realizou-se então medulograma que apresentava escassos fragmentos normocelulares, com representação escassa das séries hematopoiéticas e presença de foamy cells (12% das células nucleadas). Na coloração de Perls o ferro estava muito aumentado no sistema reticuloendotelial e presente nos escassos eritroblastos, sem sideroblastos em anel. A biópsia da medula óssea (MO) mostrou infiltração densa por macrófagos com núcleos excêntricos e citoplasma amplo e claro, e abundantes depósitos de ferro. A imunofenotipagem e o cariótipo da MO foram normais. O estudo bioquímico lisossomal inicial e confirmatório detetaram uma atividade enzimática da GCase deficiente compatível com o diagnóstico de DG. O estudo molecular demonstrou a presença de duas variantes genéticas no gene GBA, em possível heterozigotia composta.

Discussão:

O estudo morfológico da MO na DG apresenta normalmente macrófagos de citoplasma ligeiramente basófilo e aspeto fibrilar e núcleo pequeno e excêntrico. A presença de foamy cells na MO de doentes com DG é um achado atípico, reportado ocasionalmente.

Conclusão:

A DG é rara, com manifestações clínicas inespecíficas e comuns a outras patologias, dificultando o seu diagnóstico. O estudo morfológico da MO é fundamental na investigação de qualquer caso suspeito, mas é importante saber que existem apresentações morfológicas atípicas. O diagnóstico definitivo deve ser sempre confirmado através da quantificação da atividade enzimática da GCase e estudo genético.

Declaração de conflito de interesses

Nenhum dos autores tem qualquer conflito de interesse associado ao presente trabalho.