HEPATITIE AGUDA: A IMPORTÂNCIA DOS AUTOANTICORPOS NO DIAGNÓSTICO

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 035

Autores e Afiliações:

Teresa Pina, Paula Rodrigues, Alice Mendes, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

Serviço Patologia Clínica, Hospital Universitário de Coimbra

Introdução

A hepatite autoimune (HAI) é uma patologia inflamatória do fígado, crónica e progressiva, clinicamente heterogénea. Nos últimos anos tem sido verificada uma evolução da sua prevalência, com um aumento relativo de casos diagnosticados no sexo masculino. A etiologia não é completamente conhecida, considerando-se primordiais a suscetibilidade genética associada ao HLADR e fatores ambientais desencadeantes. O denso infiltrado de linfócitos, células plasmáticas e macrófagos que caracteriza o quadro histológico da HAI sugere que uma agressão imunológica celular autoimune fundamente esta condição. O diagnóstico baseia-se na identificação das alterações histológicas e laboratoriais características, e, na exclusão de outras doenças hepáticas. A evidência de autoanticorpos revela-se fundamental no diagnóstico desta patologia, permitindo a definição e classificação da HAI em dois tipos: Tipo 1 – anticorpos anti-nucleares (ANA), anticorpos anti-smooth muscle (anti-SMA) e Tipo 2 – anticorpos anti-liver kidney microsomal type 1 (anti-LKM1), e anticorpos anti-lyver cytosol type 1 (anti-Lc1). 

Caso clínico

mulher de 46 anos recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por icterícia, colúria e hipocolia fecal com 4 dias de evolução. Referia 1 episódio de vómito alimentar e noção de anorexia. Dos antecedentes pessoais a realçar hipotiroidismo e história de alergia alimentar e medicamentosa, ex-fumadora. Ao exame objetivo salientava-se icterícia, sem outras alterações relevantes. Do estudo laboratorial efetuado no SU, constatou-se a elevação da AST 1106 U/L, ALT 1744 U/L, FA 340 U/L, GGT 225 U/L, bilirrubina total 11,6 mg/dL e LDH 582 U/L. A ecografia abdominal não evidenciou alterações de relevo. Foi proposto internamento para estudo pormenorizado. No internamento foi efetuada avaliação serológica onde se excluiu causa infeciosa. O teste IGRA (Interferon Gamma Release Assay) realizado foi positivo, viabilizando o diagnóstico de tuberculose latente e o início de terapêutica com isoniazida e piridoxina.

Excluída a hipótese de hepatite viral, foi pedido estudo de autoimunidade. A pesquisa de anticorpos ANAS e anti-citoplasmáticos por imunoflurescência indireta em células Hep2, evidenciou um padrão nuclear mosqueado fino denso título 1:640 enquanto que os cortes de fígado, rim e estômago de rato demonstraram anticorpos anti músculo liso com título 1:640 e especificidade F-Actina. Foi efetuada TC abdominal, vídeobroncoscopia e biópsia hepática. As primeiras não evidenciaram alterações. Contudo na biópsia hepática foi identificado “um infiltrado inflamatório de predomínio linfocitário, com presença de plasmócitos dispersos e com atividade de interface e lobular ligeira a moderada; a nível lobular os hepatócitos apresentavam aspetos reativos, com fenómenos de bilirrubinostase e raros corpos acidófilos. Não se identificam granulomas nem microorganismos”. A doente iniciou corticoterapia com melhoria clínica e analítica gradual, que permitiu a alta para o domicílio, ficando com consulta de Medicina Interna agendada.

Discussão/Conclusão

A avaliação integrada de todos os resultados permitiu estabelecer o diagnóstico de uma HAI tipo 1. Diagnóstico esse que se revela aliciante dada a sua heterogeneidade clínica e laboratorial. A identificação precoce, permite a instituição rápida da terapêutica, que se revela fundamental na recuperação clínica, evitando a evolução para uma hepatite fulminante.

 

Os autores declaram que não existe conflito de interesses.