INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO POR Trichosporon asahii - UM AGENTE EMERGENTE DE INFEÇÃO OPORTUNISTA

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 013

Autores e Afiliações:

Miguel Seruca (Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar Universitário do Algarve),

Ana Cláudia Santos, Maria Helena Ramos (Serviço de Microbiologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto)

INTRODUÇÃO

O Trichosporon asahii é um fungo leveduriforme da família dos basidiomicetos, ubíquo no meio ambiente. No ser humano, é comensal habitual do trato gastrointestinal e um comensal transitório da pele e mucosas, bem como do trato respiratório. A sua capacidade de provocar infeção oportunista tem sido documentada, tendo a sua incidência aumentado nos últimos anos. Os principais fatores de risco são a terapêutica antimicrobiana prévia e a presença de dispositivos invasivos. Está associado a algumas patologias, sendo as doenças hematológicas malignas as mais frequentes. O risco de infeção invasiva associado à frequente multirresistência que apresenta aos antifúngicos realça a importância da identificação deste agente.

OBJETIVO

Documentar e caracterizar uma infeção do trato urinário por Trichosporum asahii, um agente infrequente, num doente com fatores de risco predisponentes.

CASO CLÍNICO

Doente de 90 anos, sexo masculino, parcialmente dependente nas atividades diárias, com antecedentes pessoais de doença linfoproliferativa de células B compatível com Linfoma Marginal, doença renal crónica e cardiopatia hipertensiva e valvular. Recorre ao Serviço de urgência por dispneia de início súbito. Realiza pesquisa de SARS-CoV 2 com resultado positivo, estabelecendo-se o diagnóstico de Covid-19, com insuficiência cardíaca descompensada e lesão renal aguda concomitantes. Ao terceiro dia de internamento, inicia tosse com expetoração amarelada, associada a subida de parâmetros inflamatórios e inicia terapêutica antimicrobiana empírica com amoxicilina/ácido clavulânico, por suspeita de sobreinfeção bacteriana, procedendo-se ainda a algaliação para monitorização da diurese. Ao sexto dia de internamento, apresenta novo pico febril, associada a agravamento da função renal, mantendo parâmetros inflamatórios elevados. São colhidas amostras de urina, sangue e secreções respiratórias, para pesquisa de agente etiológico. O exame microbiológico de urina revelou crescimento superior a 10^5 UFC de colónias brancas, opacas, de aspeto espumoso, sugestivas de um fungo leveduriforme. Procedeu-se à identificação da estirpe, com recurso à tecnologia VITEK®MS, resultando na identificação do Trichosporum asahii. As hemoculturas mantiveram-se estéreis e as secreções respiratórias não evidenciaram a presença de um agente patogénico. O teste de suscetibilidade aos antifúngicos demonstrou resistência ao Fluconazol e à Anidulofungina, bem como suscetibilidade a Posaconazol, Voriconazol e Anfotericina B. Iniciou terapêutica com Voriconazol associado a Anfotericina B, acabando por falecer dois dias depois.

CONCLUSÃO

O doente em questão reunia três fatores de risco para infeção por T. asahii (antibioterapia prévia, dispositivos médicos invasivos e doença maligna hematológica). Os achados clínico-laboratoriais sugerem o diagnóstico de uma infeção do trato urinário por T. asahii, não sendo possível determinar inequivocamente em que medida a mesma contribuiu para a evolução desfavorável do quadro.  A importância clínica da identificação laboratorial correta deste agente radica fundamentalmente na capacidade do mesmo para provocar infeções invasivas, bem como na sua habitual resistência ao Fluconazol, um dos antifúngicos mais usados no tratamento empírico de infeções do trato urinário por fungos.

 

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.