MORTE FETAL INTRAUTERINA POR LISTERIA MONOCYTOGENES

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 048

Autores e Afiliações:

Thales Milet 1, Hugo Cruz2, Virgínia Lopes2, Ana Paula Castro2, Maria Helena Ramos2

1 – Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA)

2 – Serviço de Microbiologia, Departamento de Patologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUPorto)

Introdução

Listeria monocytogenes (L. monocytogenes) é um bacilo Gram positivo, anaeróbio facultativo, móvel, não esporulado, catalase positiva e oxidase negativa, que pode causar desde gastroenterite febril autolimitada de origem alimentar até doença invasiva grave como, por exemplo, bacteremia e meningoencefalite. A listeriose associada à gravidez possui uma incidência dez a vinte vezes superior à da população em geral e, embora a infecção materna seja geralmente ligeira e as manifestações clínicas inespecíficas, a transmissão vertical pode conduzir a morte fetal, parto prematuro e listeriose neonatal.

Caso clínico

Grávida com 39 anos de idade, sem antecedentes pessoais de relevo, recorre ao serviço de urgência de Ginecologia/Obstetrícia por sensação de diminuição dos movimentos fetais. Cerca de uma semana antes, refere quadro de astenia, cefaleias, mialgias, cólicas abdominais e diarreia aquosa, sem noção ou documentação de febre. Na história alimentar salienta-se o consumo de sapateira pré-cozida no dia anterior ao início dos sintomas. Após realização do exame físico e de ecografia obstétrica, foi verificada morte fetal intrauterina às 29 semanas de gestação e o nado-morto foi enviado para autópsia médico-legal. O estudo anatomopatológico evidenciou uma superfície pleural com áreas de congestão vascular marcada e algumas petéquias, bem como parênquima pulmonar com áreas de necrose rodeadas por infiltrado inflamatório leucocitário, tendo-se enviado tecido de necropsia para estudo microbiológico. O exame microscópico direto do tecido de fragmento pulmonar do feto, através da técnica de Gram, mostrou a presença de alguns piócitos e de alguns bacilos Gram positivo. Após 24 horas de incubação a 37˚ C, em capnofilia, o exame cultural em gelose de chocolate revelou a presença de uma flora moderada exclusiva de colónias pequenas e lisas, de coloração esbranquiçada, as quais foram identificadas por espectrometria de massa MALDI-TOF no VITEK® MS (bioMérieux) como L. monocytogenes. O estudo de suscetibilidade aos antimicrobianos foi realizado pelo método de Kirby-Bauer e os resultados interpretados de acordo com os breakpoints clínicos do EUCAST 2021, sendo que a estirpe se revelou sensível à ampicilina (halo de inibição = 19 mm), à eritromicina (halo de inibição = 29 mm) e ao trimetropim/sulfametoxazol (halo de inibição = 37 mm). Na medida em que a grávida não apresentava sintomas à admissão hospitalar, assumiu-se resolução espontânea da listeriose, pelo que não houve necessidade de instituir terapêutica antimicrobiana.

Conclusões

O diagnóstico de listeriose associada à gravidez pode passar despercebido se a infecção materna for desvalorizada. Após atravessar a placenta, L. monocytogenes pode provocar complicações fetais graves incluindo, conforme descrito neste caso clínico, a pneumonia potencialmente fatal. A prevenção da listeriose inclui não só a testagem a nível da indústria alimentar, mas também a educação de grupos populacionais de alto risco como, por exemplo, as grávidas, relativamente às práticas seguras de manuseamento e de consumo de alimentos, sobretudo produtos lácteos não pasteurizados, carne, marisco, frutas e vegetais crus.