RELEVÂNCIA DA IMUNOFENOTIPAGEM LINFOCITÁRIA NO ESTUDO IMUNOCITOLÓGICO DO LAVADO BRONCOALVEOLAR
Evento: SPPC 2021
Poster Número: 055
Autores e Afiliações:
João Pedro Barreto (1), Cátia Iracema Morais (2), Mónica Crista (2), Sónia Dias (2), Judite Guimarães (2), Lídia Branco (2), Graça Franchini (2), Júlia Vasconcelos (2), Esmeralda Neves (2);
(1) Departamento de Diagnóstico Laboratorial, Instituto Português de Oncologia do Porto;
(2) Serviço de Imunologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto
Introdução
As doenças pulmonares intersticiais (DPI) compreendem um conjunto heterogéneo de doenças difusas do parênquima pulmonar, definidas por critérios clínicos, radiológicos e fisiopatológicos.
O diagnóstico de DPI envolve uma avaliação inicial do doente (epidemiológica, imagiológica e laboratorial), podendo ainda ser necessários testes de função pulmonar, estudo microbiológico e imunocitológico do lavado broncoalveolar (LBA), ou até biópsia pulmonar.
Na suspeita de DPI, a análise imunocitológica de LBA, e mais especificamente a imunofenotipagem linfocitária (IFT) por citometria de fluxo, têm interesse em contextos restritos. De facto, a IFT não é recomendada por rotina na análise do LBA (Meyer, K.C. et al, 2012, American Thoracic Society – ATS).
De acordo com as guidelines da American Thoracic Society, a imunofenotipagem dos linfócitos, com determinação de subpopulações linfocitárias e rácio CD4/CD8, terá maior utilidade quando se verifiquem cumulativamente 3 condições:
– elevada suspeita clinica de DPI associada a alveolite linfocítica (ex.: sarcoidose, pneumonite de hipersensibilidade),
– celularidade do LBA > 1.8×10⁵/mL,
– percentagem de linfócitos no LBA > 15%.
Objetivos e Metodologia
Apresenta-se uma casuística da análise celular de todos os LBA colhidos num hospital universitário durante o ano de 2018. A partir desta casuística, procurou-se avaliar o contributo da fenotipagem dos linfócitos do LBA na confirmação ou exclusão do diagnóstico final do doente, mediante consulta dos respetivos processos clínicos.
Resultados
Foram incluídos e analisados os resultados de 130 amostras de LBA, que correspondiam a 53% de indivíduos do sexo masculino e 47% do sexo feminino. A média de idades foi de 59 anos, com 72% dos casos acima dos 50 anos de idade.
Em 45% dos casos houve diagnóstico presuntivo ou definitivo de patologia infeciosa e em 40% diagnosticou-se uma DPI. Nos restantes 15% incluíam-se neoplasias e outras condições não enquadráveis nas categorias anteriores.
Na série em análise, apenas 39 casos reuniam cumulativamente as 3 condições propostas pela ATS, verificando-se que a imunofenotipagem linfocitária contribuiu para o diagnóstico final em 27 destes casos (69,2%).
Nas amostras com celularidade normal (n=33), a IFT apenas ajudou a firmar o diagnóstico em 6 amostras (18,2%), sendo que em todas estas existia suspeita clínica de alveolite linfocítica e linfócitos > 15%.
Nas amostras com celularidade acima de 1.8×10⁵/mL mas linfócitos < 15% (n=56) a IFT voltou a ser útil apenas em 3 amostras que tinham suspeita explícita de sarcoidose ou pneumonite de hipersensibilidade (5,4%).
Por fim, em 2 amostras com celularidade acima de 1.8×10⁵/mL e linfócitos > 15% confirmou-se a suspeita clínica de patologia infeciosa.
Conclusões
Os resultados corroboram a utilidade da fenotipagem dos linfócitos nos LBA que reúnam cumulativamente os 3 critérios da ATS de 2012. Verifica-se também que as amostras que não cumpram qualquer critério não beneficiam da IFT.
Quando reunidos apenas 1 ou 2 dos critérios, a elevada suspeita clinica de DPI associada a alveolite linfocítica (i.e. alta probabilidade pré-teste) e, em menor grau, a documentação de linfócitos no LBA >15% são bons indicadores de rentabilidade diagnóstica da IFT.
Em termos práticos, a aplicação das guidelines citadas permitiria obviar 94 IFTs, mais de 70% das fenotipagens realizadas na série em análise, sem que houvesse perda de informação relevante para o diagnóstico final.