SALMONELOSE INVASIVA – UM CASO DE SEPSIS PEDIÁTRICA COM ORIGEM ALIMENTAR

Evento: SPPC 2021

Poster Número: 037

Autores e Afiliações:

Cláudia Lopes, Ana Lima, Ana Aguiar, Fernanda Brites, Amélia Afonso, Arménia Santos, Mariana Silva, Ana Cristina Silva

Serviço de Patologia Clínica, CHEDV

INTRODUÇÃO

Os membros do género Salmonella causam salmonelose, podendo o espectro clínico variar desde gastroenterite auto-limitada a bacteriemia, sepsis ou falência multiorgânica. A maior parte das salmoneloses são causadas por S. enterica spp enterica, da qual fazem parte inúmeros serótipos ou serovares, agrupados em Tifóides e não Tifóides. O serovar Panama, raramente discutido, tem ganho relevância global e crescente, em termos de Saúde Pública, dado que tem sido reportado como um dos serovares responsáveis por salmonelose invasiva não tifóide, repetidamente associado a bacteriemia. Está também associado a apresentações atípicas, nomeadamente faringites, artrites sépticas, meningites, abcessos cerebrais e osteomielites. 

DESCRIÇÃO DO CASO

Adolescente do sexo masculino, 16 anos, trazido ao Serviço de Urgência do CHEDV a 27/08/2021, por quadro febril, com 24 horas de evolução, picos de 4/4 h, temperatura máxima 39.8ºC, com cedência a antipiréticos, tonturas e cefaleias frontais, associadas a obstrução nasal e tosse escassa. Referidas adicionalmente dejecções diarreicas, com 3-4 dias de evolução, sem sangue ou muco, astenia e anorexia.  

Ao exame objectivo apresentava a orofaringe ruborizada. Realizada pesquisa de SARS-CoV-2 por PCR, com resultado negativo. Teve alta para o domicílio com medidas sintomáticas.
Trazido novamente ao Serviço de Urgência a 30/08/2021 por manter quadro febril e por agravamento da tosse, anorexia e astenia.

Ao exame objectivo encontrava-se pálido, desidratado e com mau estado geral. Amígdalas, úvula e palato mole muito ruborizadas, com escorrências purulentas posteriores. Auscultação pulmonar com sibilos dispersos, sem outras alterações. Realizou novamente Pesquisa de SARS-CoV-2, mas também de Influenza A, Influenza B e VSR, que foram negativas. Neste contexto realiza também Pesquisa Streptococcus do Grupo A que também foi negativa. Do estudo analítico realizado destaca-se uma leucopenia, com linfopenia, trombocitopenia e parâmetros inflamatórios elevados, não apresentando outras alterações analíticas. Realiza Raio X do tórax e observou-se presença de infiltrado para hilar bilateral. 

Faz colheita de sangue de veia periférica para Hemocultura (Pediátrica), que positiva após 16 horas de incubação. No exame com coloração de gram apresentava bacilo de gram negativo. Identificou-se uma S. enterica spp enterica serovar Panama, que também foi isolada em Coprocultura. Teve alta para o domicílio a 06/09/2021, com antibioterapia endovenosa prescrita em regime de ambulatório.

CONCLUSÃO

Apenas um pequeno grupo de serovares de Salmonella causam infeção sistémica, conhecida como Salmolenose invasiva não-tifóide e têm vindo a emergir como agentes patogénicos frequentemente isolados em Hemoculturas. Para além de poder causar gastroenterite, S. Panama tem sido cada vez mais reconhecida pela sua capacidade de desencadear doença invasiva e colonização extra-intestinal, quando comparada com a maior parte dos serovares de Salmonella.

O caso apresentado vai de encontro ao que está reportado na literatura científica e espelha a importância de medidas higiénico-dietéticas na prevenção da infecção, bem como de uma anamnese e exame objectivo adequados para uma melhor orientação diagnóstica.

 

Todos os autores declaram que não possuem qualquer tipo de conflito de interesses.