TROMBOCITOPÉNIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Evento: SPPC 2021
Poster Número: 011
Autores e Afiliações:
Eliana Cajigas Silva1; Vitoria Cabral 2; Anabela Gomes 3; Lina Diogo 3; Carlos Flores 4.
Serviço de Patologia Clínica Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Introdução
A pandemia COVID-19 colocou-nos novos desafios na investigação da etiologia da trombocitopenia, não só porque uma percentagem apreciável de doentes Covid em determinada etapa da infeção mostram uma diminuição considerável do número das plaquetas , presumivelmente causada pela própria infeção viral, como também se assistiu a um aumento de situações de trombocitopénia associadas a fenómenos trombóticos , não só nos doentes Covid como também nos indivíduos vacinados contra a doença, nomeadamente os vacinados com vacinas por adenovírus. Ressurgiu o interesse nos anticorpos Anti PF4 como protagonistas da trombocitopénia induzida pela heparina ( HIT) e da trombocitopenia trombótica induzida pela vacina ( VITT) ao verificar-se que quer nos doentes quer nos vacinados contra a Covid se encontravam níveis elevados daqueles anticorpos.
Objetivo e metodologia
Pretendeu-se averiguar de entre os doentes propostos para determinação dos Ac anti PF4 durante os meses de Abril a Setembro de 2021 , no nosso laboratório, quais se adequavam á situação clínica , utilizando o scoreT e em que situações se fez o diagnóstico de HIT. Para isso procedeu-se á deteção e/ ou quantificação dos Ac anti PF4 em plasma citratado de 13 doentes do nosso hospital por imunoturbidimetria e imunodifusão lateral.
Resultados
inicialmente foram estudados um total de 13 doentes de idades compreendidas entre os 18 e os 81 anos (media 58 ai), M 7/F 6 , internados em Unidades de Cuidados Intensivos e nos Serviços de Medicina do nosso hospital. Destes , um foi eliminado por se tratar de falsa trombocitopenia e outro por não ter realmente feito tratamento com heparina ( SCORE T < 4).Os restantes doentes (11) apresentaram ScoreT igual ou superior a 4 e foram processados pelos métodos disponíves no Serviço ( imunoturbidimetria ou imunodifusão lateral). Apenas 2 doentes ( 0,18 %) apresentaram positividade para o teste de Ac anti PF4, tendo sido um deles realizado por imunoturbidimetria e outro por Imunodifusão lateral. Nestes dois casos foi imediatamente parada a administração da heparina e tomada a atitude terapêutica indicada na situação de HIT. Destes doentes, um teve desfecho fatal ( trombose das veias mesentéricas) e o outro ( trombose seio cavernoso) ficou com sequelas incapacitantes. Nos doentes sem Ac anti PF4 foram encontradas outras etiologias para a trombocitopénia : Síndrome mielodisplásico ( 2 casos), PTI ( 2 casos ),sépsis ( 2 casos), rejeição de transplante ( 1 caso), doença Covid 19 ( 2 casos).
Dos restantes testes laboratoriais destaca-se um aumento dos Ddímeros em 63,0 % dos doentes.
Conclusão
Sendo a casuística muito pequena , todas as considerações terão de ser avaliadas com cautela. Os testes por nós disponíveis, sendo testes de screening, conjuntamente com o Score T permitiram-nos fazer o diagnóstico presuntivo de HIT e parar de imediato o tratamento pela heparina , visto ser esta uma situação causadora de mortalidade de cerca de 20 % nas doentes com esta patologia não diagnosticada atempadamente. Nas restantes situações , apesar de estarem sob tratamento com heparina, os resultados negativos levam-nos a prosseguir a investigação da causa da trombocitopenia.
Os testes ideais para a VITT – testes de ELISA- nem sempre estão disponíveis nos nossos laboratórios, pelo que esta condição não pôde ser avaliada ( na nossa casuística, os doentes vacinados para Covid 19 e estudados pela trombocitopenia e trombose não mostraram Ac anti PF4).
Os autores não têm qualquer conflito de interesse a declarar.