UMA CAUSA DIFERENTE DE ANEMIA
Evento: SPPC 2021
Poster Número: 043
Autores e Afiliações:
Mileydy Loaiza1, Teresa Fernandes1, Susana Matos1, Júlia Henriques1, Isabel Faria1, Marlene Pinho1, Susana Xavier1, Cristina Toscano1, João Viana2
1 – Laboratório de Microbiologia Clínica e Biologia Molecular, HEM, CHLO;
2 – Diretor Serviço Patologia Clínica CHLO
Introdução
A anemia crónica com astenia e anorexia associadas é um motivo frequente de consulta médica. A sua origem pode estar associada a uma alimentação incorreta, a síndromes de má absorção, metrorragias e causas mais graves, tais como doenças neoplásicas, sendo este conjunto de causas as mais comuns na população. O presente caso é um exemplo de outras etiologias que devemos suspeitar em doentes naturais de áreas endémicas de helmintoses, que estão na origem de anemias que poderão ser severas devido a cronicidade. Para além da espoliação sanguínea devida aos ancilostomideos, Strongyloides stercoralis é um nemátode intestinal cujo ciclo de vida permite a autoinfecção interna. Em doentes imunossuprimidos pode dar origem ao síndrome de hiperinfecção, que facilmente evolui para choque séptico e falência multi-orgânica.
Caso Clínico:
Mulher de 55 anos, natural de São Tomé e Príncipe, a residir em Portugal há 2 anos, com anemia crónica medicada com ferro oral. Negados hábitos tabágicos ou toxifílicos e sem história familiar de anemia ou neoplasia.
Referia queixas de anemia com 1 ano de evolução, associado a anorexia desde março/2021, perda ponderal e astenia desde há 2 meses. Foi encaminhada do Centro de Saúde para o Serviço de Urgência do Hospital São Francisco Xavier por apresentar anemia grave (hemoglobina: 4.2 g/dl). Negadas síncope ou lipotimia, alteração da coloração da pele ou escleróticas, perdas hemáticas, dor torácica, alteração da marcha, défices cognitivos, parestesias. Na avaliação laboratorial destacava-se: anemia normocítica normocrómica (hemoglobina: 3.8 g/dL), sem trombocitopenia; o esfregaço de sangue periférico revelou hipocromia, anisopoiquilocitose acentuada; ferritina normal e aumento de outros parâmetros inflamatórios (proteína C reativa e velocidade de sedimentação). Realizada endoscopia digestiva alta: “gastrite crónica de grau moderado, de atividade ligeira, associada a pesquisa de H. pylori positiva (2+)”. A biópsia duodenal revelou lesões de duodenite, tendo sido identificadas algumas estruturas sugerindo infeção por nematodes. O exame parasitológico das fezes revelou uma excreção acentuada de dois tipos de parasitas: Ancylostomidae e Strongyloides stercoralis.
Foi assumida anemia crónica agudizada pela espoliação de sangue contínua pelos ancilostomídeos, e ainda pela síndrome de hiperinfecçao causado por Strongyloides stercoralis. Foi instituída terapêutica com ivermectina e albendazol e realizadas transfusões de concentrados eritrocitários. Verificou-se uma melhoria gradual com completa resolução do seu quadro clínico.
Conclusão:
Este caso clínico reflete bem o subdiagnóstico associado às infeções parasitárias.
Esta doente apresentava anemia com 1 ano de evolução e agravamento progressivo, uma vez que não foram diagnosticados os agentes etiológicos responsáveis e por isso não foi instituída terapêutica especifica. Este caso pretende alertar para a necessidade de efetuar o despiste de parasitoses em doentes provenientes de áreas endémicas. Estes doentes com diferentes comorbilidades, quando apresentam imunossupressão associada a diferentes terapêuticas ou devido a variadas causas infeciosas, desenvolvem síndromes de hiperinfeção que são fatais se não forem atempadamente diagnosticadas e instituída terapêutica dirigida.
Os autores declaram não existir qualquer conflito de interesse