UMA INFEÇÃO RESPIRATÓRIA PROVÁVEL: UMA REFLEXÃO
Evento: SPPC 2021
Poster Número: 041
Autores e Afiliações:
Mileydy Loaiza1, David Ranhel1, Rita Paulino1, Susana Matos1, Elsa Gonçalves1, Júlia Henriques1, Isabel Faria1, Susana Xavier1, Cristina Toscano1, João Viana2
1 – Laboratório de Microbiologia Clínica e Biologia Molecular, HEM, CHLO;
2 – Diretor Serviço Patologia Clínica CHLO.
Introdução
As bactérias do género Legionella causam a Doença do Legionário e a Febre de Pontiac e, mais raramente, infeções extrapulmonares (ex: endocardite); a primeira é uma doença multissistémica grave com pneumonia e a segunda uma doença auto-limitada tipo síndrome gripal, sem pneumonia. Existem pelo menos 60 espécies diferentes de Legionella, sendo a maioria dos casos de doença no homem causada por Legionella pneumophila, particularmente o serogrupo 1 (sg1). A transmissão é feita pela inalação de água em aerossol contendo a bactéria, sendo extremamente rara a transmissão pessoa a pessoa.
A Legionella pneumophila pode causar surtos e está amplamente distribuída em ambientes aquáticos naturais e sistemas artificiais de água, como torres de refrigeração, condensadores, fontes e redes de água (incluíndo sistemas hospitalares).
Um atraso no diagnóstico deste agente etiológico de pneumonia, sem instituição da terapêutica antibiótica dirigida, pode conduzir a uma rápida deterioração da função pulmonar e de outros sistemas, pelo que o seu rápido diagnóstico é crucial. No entanto, o facto de não ser visualizada na coloração de Gram e não crescer nos meios culturais habituais, dificulta o seu diagnóstico. Assim, a suspeita diagnóstica de Legionella, implica a realização de outros testes laboratoriais (pesquisa de antigenúria, pesquisa de antigénio em amostra respiratória, cultura em meios seletivos e específicos, entre outros).
A colheita de amostra respiratória para cultura deve ser efetuada antes do início da antibioterapia, uma vez que a toma de antibióticos diminui drasticamente a probabilidade de recuperação da bactéria em cultura.
Caso Clínico
Homem de 83 anos, com doença pulmonar obstrutiva crónica, com esquema de vacinação completa para SARS-CoV2, recorreu ao Serviço de Urgência (SU) com quadro de dispneia e febre, com 2 dias de evolução. Referiu ter frequentado piscina/termas 10 dias antes do início dos sintomas. No exame objetivo, à entrada, salienta-se dispneia com hipoxémia em ar ambiente e perfil hipotensivo. Dos exames de imagem e laboratoriais realizados no SU destaca-se: RX de tórax com hipotransparência nos 2/3 inferiores à direita e base esquerda; hemograma com leucocitose e neutrofilia; proteína C reativa elevada; pesquisa de antigenúria para L. pneumophila sg 1 positiva. Medicado inicialmente com amoxicilina/acido clavulânico e claritromicina, terapêutica alterada para levofloxacina e piperacilina/tazobactam após o resultado positivo da antigenúria de Legionella. Não foi realizado exame cultural. Admitido o diagnóstico de choque séptico com ponto de partida respiratório com disfunção cardiovascular, sendo internado na Unidade de Cuidados Intensivos.
Conclusão
Este caso exemplifica a importância de uma adequada avaliação clínica e anamnésica para um adequado e precoce diagnóstico etiológico de uma pneumonia.
A Legionella pneumophila é um agente frequente de pneumonia e deve ser pesquisada sobretudo em doentes com sintomas respiratórios, fatores de risco (imunossupressão, doença pulmonar prévia, frequência de termas/piscina).
A abordagem diagnóstica inicial deve incluir a pesquisa de antigenúria e o exame cultural de Legionella.
A antigenúria pode permanecer positiva durante semanas depois de terminar a terapêutica antibiótica. O isolamento da bactéria em cultura tem implicações nos estudos epidemiológicos (nomeadamente em surtos).
“Os autores declaram não existir qualquer conflito de interesse”