A PROPÓSITO DE UM CASO FATAL DE LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AGUDA
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 062
Autores e Afiliações:
Dinis Calçada-1, José Marta-2, Alejandra Pereira-1, Rita Fonseca-1, Nélio Santos-1.
1 – Centro Hospitalar Universitário do Algarve
2 – Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Introdução
A leucemia promielocítica aguda (LPA) é um subtipo de leucemia mielóide aguda caracterizada por alterações genéticas específicas, responsáveis pela expansão clonal de células neoplásicas imaturas descritas morfologicamente como promielócitos, e sua acumulação no sangue e medula óssea. A grande maioria dos casos de LPA caracteriza-se pela fusão do gene PML, no cromossoma 15, com o gene RARA, localizado no cromossoma 17, dando origem ao gene de fusão PML-RARA.
A maioria dos doentes apresenta pancitopenia. Sendo comum fadiga, fraqueza e dispneia, decorrentes da anemia, contusões fáceis ou hemorragia, secundárias a trombocitopenia ou distúrbios da coagulação, febre e maior suscetibilidade a infeções, explicadas pela leucocitopenia.
Descrição do caso
Indivíduo do sexo masculino, 36 anos, sem antecedentes pessoais conhecidos e sem histórico de medicação habitual. Recorre ao Serviço de Urgência Básico (SUB) da sua área de residência com queixas de mal-estar generalizado, equimoses e hemorragia gengival. Durante a sua permanência no SUB verificou-se uma deterioração progressiva do estado de consciência, tendo sido contactado o CODU (centro de orientação de doentes urgentes) e o doente transportado para o Serviço de Urgência Polivalente mais próximo.
À observação na sala de emergência hospitalar apresentava-se com um nível de 3 na escala de Glasgow e extensas equimoses dispersas pelo tronco e membros. Analiticamente apresentava anemia e trombocitopenia, um tempo de protrombina de 24.9s, d-dímeros de 35116 ng/mL e fibrinogénio de 1.3 g/L. O estudo imagiológico evidenciou extenso acidente vascular cerebral hemorrágico.
Encontramo-nos perante um doente com um quadro compatível com coagulação intravascular disseminada e extensas lesões hemorrágicas cerebrais. Esta coagulopatia, que viria a ser fatal, é uma apresentação clínica frequente da LPA.
Procedeu-se então à análise morfológica do esfregaço de sangue periférico (ESP) e ao envio de amostras para estudo imunofenotípico e citogenético.
No ESP foram observados 43% de blastos e 20% de promielócitos com proeminente granulação citoplasmática, núcleo dismórfico de forma e dimensão heterogéneas, desde bilobado a reniforme e presença de bastonetes de Auer, aspetos sugestivos de LPA.
A análise imunofenotípica por citometria de fluxo demonstrou a presença de uma linhagem mielóide representada por 80% de promielócitos com o seguinte fenótipo (CD13+, CD117-, CD34-, HLA-Dr, cd15-, cd11b- e cd45+ fraco), confirmando a suspeita diagnóstica.
O estudo do cariótipo revelou a presença de três linhas celulares, duas anormais e uma normal de constituição 46,XY. Ambas as linhas celulares anormais são constituídas por 47 cromossomas, apresentando um cromossoma 8 supranumerário e uma translocação entre o braço longo de um dos cromossomas 15 e o braço longo de um dos cromossomas 17 (47,XY,+8,t(15;17)(q24:q21)).
A análise por hibridação in situ fluorescente (FISH), utilizando sondas de sequência única para os genes PML e RARA, permitiu confirmar a presença do gene de fusão PML/RARA em 91% das células analisadas.
Conclusão
Trata-se de uma patologia hemato-oncológica rara, que viu o seu estatuto de leucemia detentora do pior prognóstico mudar para a mais frequentemente curável. No entanto, casos fatais continuam a existir, alertando-nos para a extrema importância do seu diagnóstico atempado.
Declaração de conflito de interesses: Todos os autores declaram que não têm conflitos de interesse.
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