ACTINOMYCES ODONTOLYTICUS: UM ISOLAMENTO RARO

Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica 

Poster Número: 030

Autores e Afiliações:

Bernardo Ribeiro da Silva, Filipa Silva, Gina Marrão, Ana Bento Pinto, Yuliya Sydor, Ricardo Castro

Serviço de Patologia Clínica; Centro Hospitalar Leiria, E.P.E.

Introdução

Actinomyces spp. são bacilos gram-positivos, anaeróbios facultativos, pertencentes à flora comensal dos tratos respiratório superior, gastrointestinal e urogenital. A espécie Actinomyces odontolyticus foi isolada pela primeira vez em 1958, tendo sido documentados até à data cerca de 46 casos de infeção por este agente, maioritariamente em doentes imunossuprimidos, com infeções dentárias e com hábitos etílicos marcados. Estas infeções podem ter origem em diferentes focos, incluindo as regiões abdominal, mediastínica, sistema respiratório e cardiovascular; porém, a bacteriemia também está descrita.

Caso Clínico

Homem, 51 anos, caucasiano, autónomo, sem antecedentes pessoais de relevo, exceto hábitos etílicos marcados e tabagismo. Sem medicação habitual. Recorreu ao serviço de urgência por dispneia e dor abdominal pós-prandial a nível do hipocôndrio esquerdo, com 7 dias de evolução. Negou febre, tosse, dor torácica, palpitações ou alterações gastrointestinais. Ao exame objetivo apresentava-se hipotenso, com má perfusão periférica e baixa saturação de oxigénio, tendo-se iniciado ventilação não invasiva. Do estudo analítico realizado destaca-se: leucocitose (12.400/uL) com neutrofilia (10.100/uL), trombocitopenia (154.000/uL), creatinina 116 umol/L, ureia 7,7 mmol/L, ALT 529 UI/L, AST 610 UI/L, FA 95 UI/L, PCR 229.2 mg/L, NT-proBNP 6640 pg/mL, troponina I 205,3 pg/mL e lactato 2,8 mmol/L. Foi colhido rastreio microbiológico. Do ecocardiograma realizado destaca-se a presença de dilatação das quatro câmaras cardíacas com depressão da função ventricular severa. O angio-TC torácico revelou um derrame pleural bilateral e áreas de densificação e consolidação parenquimatosa nos lobos inferiores. Foi internado no Serviço de Cardiologia com os diagnósticos de insuficiência cardíaca aguda com FEVE reduzida, infeção respiratória e disfunção multiorgânica. Foi iniciada antibioterapia empírica com amoxicilina/ácido clavulânico e claritromicina. 

Microbiologia: Dos frascos de hemocultura incubados no sistema BacT/ALERT® e sinalizados como positivos foi realizada subcultura em meio de Gelose de Sangue (GS), a qual foi incubada em aerobiose a 37ºC. Às 24h observou-se o crescimento de colónias esbranquiçadas, granulares e irregulares, identificadas como Actinomyces odontolyticus por espectrofotometria, utilizando o equipamento VITEK 2®. Não foi possível a obtenção de teste de sensibilidade antimicrobiana (TSA).  
Após a disponibilização dos resultados a terapêutica foi mantida, com boa evolução clínica e analítica do doente.

Conclusões

À semelhança das restantes actinomicoses, a infeção por Actinomyces odontolyticus é rara, tendo como ponto de partida as membranas mucosas. A penicilina é o antibiótico de primeira linha no tratamento, sendo o risco de resistência aos beta-lactâmicos baixo. Apesar de não ter sido possível a obtenção de TSA, a identificação do agente causador de infeção permitiu a decisão de manutenção da terapêutica empírica, dado o conhecimento do baixo risco de resistência aos beta-lactâmicos por esta bactéria. Este caso demonstra o importante apoio do Serviço de Patologia Clínica no diagnóstico e orientação terapêutica dos doentes, principalmente em de infeção por agentes raros.

Declaração de conflito de interesses: Os autores declaram não ter conflitos de interesse