AVALIAÇÃO RETROSPETIVA DO COBRE SÉRICO E URINÁRIO EM ADULTOS SEM DOENÇA DE WILSON – 10 ANOS DE DOSEAMENTOS NUM LABORATÓRIO HOSPITALAR CENTRAL

Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica  

Poster Número: 043

Autores e Afiliações:

Margarida Peixinho, Eulália Costa, Ana Isabel Rodrigues, Carla Oliveira, Anália Carmo, Fernando Rodrigues

Serviço Patologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Introdução

O cobre (Cu) é um oligoelemento essencial para a atividade de enzimas responsáveis pela homeostasia celular. Apesar de frequentemente se associar o seu doseamento à doença de Wilson, a concentração sérica deste oligoelemento pode sofrer alterações significativas devido a fatores como desnutrição, síndrome de má-absorção, contraceção oral, patologia hepática, patologia maligna, e processos infeciosos. Sabe-se também que a alteração na concentração sérica do Cu pode contribuir para a patogénese de doenças do foro neurológico e hematológico.  

Objetivo

Avaliação retrospetiva dos resultados de 10 anos de doseamento de Cu sérico (S) e urinário (U) em adultos sem doença de Wilson, num laboratório hospitalar terciário. 

Metodologia

Pesquisa parametrizada anonimizada utilizando o sistema informático do laboratório para analisar os valores de CuS e CuU entre 1 de Janeiro de 2011 e 31 de Dezembro de 2021, em adultos sem doença de Wilson. Os doseamentos foram efetuados por espectrometria de absorção atómica. Limite de referência do CuS para homens é 0,7-1,4mg/L e para mulheres 0,8-1,54mg/L e o do CuU<0,1mg/24h. Os resultados encontram-se sob a forma de média ± desvio padrão e a análise estatística foi efetuada por recurso ao software Excel. 

Resultados

Foram avaliados 3536 doseamentos de CuS que correspondiam a 3294 doentes: 51,6% dos doentes eram do sexo masculino com idade de 55 ±17 anos e 48,3% eram do sexo feminino com idade de 54±17 anos. 51,4% dos doseamentos foram efetuados em homens, sendo o valor médio de 1,11±0,3 mg/L. 8% dos doseamentos encontravam-se abaixo do limite inferior (LI) apresentando um valor médio de 0,55±0,17 mg/L e 15% acima do limite superior (LS) com valor médio 1,68±0,26 mg/L. 48,6% dos doseamentos foram efetuados em mulheres apresentando um valor médio de 1,32±0,44 mg/L. 7,9% dos doseamentos encontravam-se abaixo do LI (0,68±0,11 mg/L) e 23,8% acima do LS (1,94±0,38 mg/L). A comparação do valor médio do CuS em mulheres em idade fértil vs pós menopausa evidenciou que a média do CuS em idade fértil era estatisticamente superior à média do CuS nas mulheres pós menopausa, p<0001.
Relativamente ao CuU foram avaliadas 831 determinações correspondentes a 743 doentes: 53,3% dos doentes eram do sexo masculino com idade de 49 ±16 anos e 48,3% eram do sexo feminino com idade de 53±15 anos. Dos 831 doseamentos de CuU, 52,4% foram efetuados em homens, sendo o valor médio de 0,073±0,066 mg/L. 12% dos doseamentos encontravam-se acima do LS apresentando um valor médio de 0,18±0,13 mg/24h. 47,6% dos doseamentos foram efetuados em mulheres apresentando um valor médio de 0,065±0,059 mg/24h. 10% dos doseamentos encontravam-se acima do LS com valor médio de 0,19±0,11 mg/24h. 

A maioria dos doseamentos de Cu foi efetuada em doentes com patologia hepática (insuficiência hepática e patologia associada a vias biliares), neurológica (síndromes de demência e doença de Parkinson) e hematológica.

Conclusão

O doseamento de Cu é solicitado em contexto de patologia hepática, neurológica e hematológica. O doseamento de CuS nos adultos sem doença de Wilson não é geralmente acompanhado do doseamento do CuU. O CuS nas mulheres em idade fértil é significativamente mais elevado do que nas mulheres na menopausa. Fica também demostrada a diversidade de fatores que podem contribuir para as alterações no metabolismo do Cu, para além da doença de Wilson, reforçando a importância dos oligoelementos na homeostasia fisiológica.

Declaração de conflito de interesses: Declaro não haver conflito de interesses