BACTERIEMIA POR AGENTE ANAERÓBIO: CLOSTRIDIUM PARAPUTRIFICUM
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 054
Autores e Afiliações:
Ana Ferreira, Rui Freitas, Marco Assunção, Paula Mota.
Serviço de Patologia Clínica, Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães (HSOG), EPE
INTRODUÇÃO
O Clostridium paraputrificum é uma espécie extremamente rara que constitui apenas 1% de todas as infecções por Clostridium na literatura1. As espécies de Clostridium são bacilos gram-positivo anaeróbios, de difícil tratamento devido à sua capacidade de produzir endosporos resistentes.2,3 Apesar deste microrganismo pertencer à flora intestinal normal, a rutura da barreira mucosa pode resultar em bacteremia clostridiana, habitualmente associada a imunossupressão e a condições médicas subjacentes, como carcinoma do cólon, HIV e doença inflamatória intestinal4.
CASO CLÍNICO
Apresenta-se o caso clínico de um homem de 83 anos, que recorre ao SU do HSOG por quadro de dor abdominal difusa com 3 dias de evolução. Sem febre, vómitos ou outras queixas relevantes. Com antecedentes de neoplasia do colón direito e sigmóide há 20 anos, tendo sido submetido a colectomia quase total e vários internamentos em cirurgia geral por quadros de oclusão intestinal. Ao exame objetivo, apresentava abdómen endurecido e não depressível, desconforto à palpação e timpanismo difuso à percussão. Analiticamente, observou-se lesão renal aguda estádio 1 pré renal (creatinina 2,64 mg/dL e ureia 57 mg/dL) em doente com cateter duplo J, hipercaliemia (5,69 mEq/L), leucocitose (19300/uL com 89% de neutrófilos) e PCR normal. Gasimetria em ar ambiente com acidemia metabólica (pH 7,340, pCO2 32, HCO3 16,9). Evoluiu desfavoravelmente, com perfil hipotensivo e subida dos parâmetros inflamatórios (PCR 16,5 mg/dL). Raio-X abdominal sem níveis hidroaéreos. A tomografia computorizada abdominal revelou distensão cólica com níveis hidroaéreos nas ansas do intestino delgado compatível com quadro suboclusivo. Ao cuidado da cirurgia geral, o doente foi submetido a laparotomia exploradora com lise de bridas e rafia de perfurações iatrogénicas. Iniciou antibioterapia com Piperacilina+Tazobactam. Desde o pós-operatório com perfil hipotensivo, baixo débito urinário, dessaturação e prostração. Após 2 dias, entrou em choque sético associado a peritonite fecaloide tendo sido submetido a nova laparotomia exploradora e realizado enterostomia proximal. Foi admitido na UCIP com necessidade de suporte cardiovascular e respiratório invasivo. Colheram-se hemoculturas que positivaram em menos de 24h. O esfregaço de sangue periférico corado pelo método de Gram mostrou bacilos gram positivos, com esporos terminais intumescidos. No exame cultural, em atmosfera de aerobiose não se verificou qualquer crescimento mas em anaerobiose obtiveram-se colónias isoladas no meio de gelose de sangue. Recorrendo à espetrofotometria de massa foi possível identificar a estirpe de C. paraputrificum no Sistema Vitek® MS (Biomérieux). Após iniciar metronidazol apresentou evolução clínica e analítica favorável, não tendo sido documentadas complicações intra-abdominais. Teve alta ao 36º dia de internamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho evidencia-se um caso raro de bacteriemia causada pelo Clostridium paraputrificum e o papel do laboratório de microbiologia no seu isolamento e identificação em tempo útil, permitindo ajustar o tratamento antibiótico de forma mais dirigida. É fundamental ter sempre presente que as infeções por agentes anaeróbios, embora pouco frequentes, existem, e podem conduzir a situações graves ou mesmo potencialmente graves caso não sejam diagnosticadas atempadamente.
Keywords: Clostridium paraputrificum, peritonite, espetrofotometria
Declaração de conflito de interesses: Não existem conflitos de interesse.
Powered By EmbedPress