EFEITO DA RASBURICASE NO DOSEAMENTO DO ÁCIDO ÚRICO - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica 

Poster Número: 012

Autores e Afiliações:

Filipa P. Freitas-1, Lucas Barbosa-1, Ana Raquel Paiva-1, Rui Soares-1,2, Luís Nina-1.

1 – Serviço de Patologia Clínica, Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil, EPE

2 – Instituto de Microbiologia da Faculdade de Medicina da UC

INTRODUÇÃO

A rasburicase é um fármaco utilizado na prevenção da hiperuricemia resultante do síndrome de lise tumoral (SLT). A SLT ocorre devido à destruição maciça das células malignas, podendo levar a hipercaliemia, hiperuricémia, hiperfosfatémia e hipocalcémia. A rasburicase é responsável pela conversão de ácido úrico em alantoína, sendo esta forma mais facilmente excretada. 
No nosso laboratório observamos que em doentes a realizar rasburicase o doseamento de ácido úrico é inferior ao limite de deteção do equipamento. O objetivo deste trabalho é apresentar um caso clínico referente a esta situação e abordar os possíveis mecanismos subjacentes.

CASO CLÍNICO

Doente sexo feminino, 46 anos. Diagnosticada em Set/2016, LLC/LNH linfocítico, fenótipo atípico, estadio I de RAI, B de Binet. Atualmente a realizar 2ª linha terapêutica com Rituximab + Venetoclax. Por alto risco de SLT, internada para início de terapêutica com Venetoclax. Pelo mesmo motivo, iniciou rasburicase previamente ao início do tratamento. Previamente ao início da terapêutica com Venetoclax a doente realizou estudo analítico, que não demonstrou alterações inesperadas, apresentado um valor de ácido úrico <0.5 mg/dL.

DISCUSSÃO

Este trata-se de um caso no qual o valor de ácido úrico é inferior ao limite de deteção do equipamento (0,5 mg/dL). O resultado foi confirmado por química seca. Em termos de técnica, a medição da concentração de ácido úrico é realizada por método colorimétrico enzimático (uricase e peroxidase) com absorvância a 545/694nm.

A principal razão referida na literatura é a permanência da atividade do fármaco ex vivo, levando a que o ácido úrico continue a ser convertido em alantoína. Uma das soluções apresentadas é o tratamento da amostra num ambiente refrigerado, ou seja, efetuar a colheita para tubo de heparina refrigerado, que tem que ser mantido num banho de água fria e analisado dentro de 4 horas. Contudo houve estudos que comprovaram que o banho de água fria suprime mas não inibe completamente a atividade da rasburicase ex vivo, não sendo observadas diferenças significativas entre a colheita/manuseamento em baixas temperaturas e temperatura ambiente. Há publicações que recomendam que em situações clínicas nas quais seja necessário saber o valor exato da uricémia seja realizado o pré-tratamento da amostra com ácido perclórido.

CONCLUSÕES

Ainda não há certezas acerca dos mecanismos subjacentes a este fenómeno, nem há soluções totalmente eficazes para este problema. A utilidade da medição de ácido úrico em doentes a realizar rasburicase também é debatível, sendo que em cada doente se deve avaliar a relevância de valores exatos de ácido úrico.

Declaração de conflito de interesses: Os autores deste resumo não têm nenhum conflito de interesses a declarar.