INFEÇÃO POR STRONGYLOIDES STERCORALIS – CASO CLÍNICO
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 035
Autores e Afiliações:
Patrícia da Cunha Rodrigues, Ana Vieira, Carmen Iglesias, Aurélio Mesquita.
Hospital de Braga
Introdução
O Strongyloides stercoralis (S.stercoralis) é um nemátodo intestinal com distribuição mundial, sendo que nas zonas tropicais e subtropicais com más condições higio-sanitárias a infeção é comum. Esta ocorre através da penetração da pele pela larva filariforme. Um achado característico deste parasita é a capacidade de autoinfeção, que leva à persistência da infeção durante décadas.
Na maioria dos casos a infeção intestinal é assintomática. A eosinofilia e níveis de IgE elevados são achados comuns. Em indivíduos imunocomprometidos pode ocorrer o Síndrome de Hiperinfeção, que se caracteriza por proliferação descontrolada das larvas com invasão multiorgânica e taxas de mortalidade próximas de 90%. Em Portugal até à década de 80 havia vários casos descritos, mas com a melhoria das condições de higiene e saneamento básico o diagnóstico desta infeção tornou-se raro.
Caso Clínico
Homem de 80 anos, sem história de viagens recentes, seguido em consulta de Medicina Interna por eosinofilia e perda ponderal. Do estudo analítico apresentava hemoglobina de 14,1 g/dL, 12000 leucócitos com 18% de eosinófilos e níveis normais de IgE. Neste contexto foi pedido exame parasitológico de fezes, onde foram observadas larvas rabditiformes, com primórdio genital e extremidade anterior com boca curta, características de S. stercoralis. O doente realizou endoscopia digestiva alta e colonoscopia, que não mostraram alterações. No seguimento do estudo da eosinofilia foi ainda pedida imunofenotipagem de sangue periférico e medula óssea, com suspeita de linfoma linfoplasmocítico/linfoma do manto e o doente foi encaminhado para consulta de Oncologia.
Após revisão da história clínica foi verificada eosinofilia desde há 20 anos e vários episódios de urgência por dor abdominal. O doente confirmou história de viagens a África e América do Sul no passado.
O doente realizou tratamento com albendazol, durante 7 dias. As análises posteriores mostraram resolução da eosinofilia (0,6%) e o exame parasitológico das fezes foi negativo.
Conclusões
Apesar da infeção pelo S. stercoralis poder permanecer indetetável durante anos, a imunossupressão pode levar ao desenvolvimento do Síndrome de Hiperinfeção. Para pessoas que viajaram para áreas endémicas, o rastreio e tratamento desta infeção deve ser considerado antes da instituição de terapêutica imunossupressora. Em Portugal estão descritos vários focos endémicos no passado, sendo que neste momento ainda podemos encontrar doentes com infeção quiescente contraída há décadas, sem viagens ao estrangeiro, sendo importante o rastreio de doentes com história prolongada de episódios de dor abdominal, alterações do trânsito intestinal e eosinofilia periférica.
O método gold-standard para diagnóstico é a identificação do parasita nas fezes, contudo na fase crónica da infeção, devido à libertação intermitente das larvas e à sua diminuída concentração, apresenta baixa sensibilidade. As estratégias diagnósticas atuais incluem ainda os imunoensaios para a deteção de anticorpos (Enzyme-linked immunoassay – ELISA), com um elevado valor preditivo negativo, apesar de haver possibilidade de reações cruzadas com outras parasitoses, terem baixa sensibilidade em doentes com défice de produção de anticorpos e não distinguem entre infeção aguda e passada. Estão disponíveis ainda testes moleculares com sensibilidades e especificidades muito elevadas, contudo ainda apresentam um custo elevado.
Declaração de conflito de interesses: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse.