LEISHMANIOSE: ESTUDO DE UMA PANCITOPÉNIA
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 064
Autores e Afiliações:
Ana Paquete, Ruslana Shvets, José Luís Grañeda, Filomena Caldeira.
Serviço de Patologia Clínica, Hospital Espirito Santo de Évora E.P.E.
Introdução
A Leishmaniose é uma doença causada pelo parasita Leishmania, transmitida pela picada de flebótomos.
No ser humano, a leishmaniose pode ocorrer sob três formas: uma forma cutânea, caracterizada pela presença de úlceras na pele, que podem ou não curar espontaneamente; uma forma mucocutânea, cujas lesões fazem lembrar as da lepra e que pode levar à destruição das mucosas da boca e nariz; e uma forma visceral, que cursa com febre intermitente, hepatomegalia, esplenomegalia, por vezes adenopatias, pancitopenia com linfocitose relativa e hipergamaglobulinémia policlonal. Em Portugal, as mais comuns são a visceral e a cutânea, que afectam sobretudo crianças até aos 3 anos e doentes imunodeprimidos.
Relato de Caso
Doente do sexo feminino, de 67 anos, com antecedentes pessoais de Artrite Reumatoide, bócio multinodular, hemorroidas e síndrome depressivo e ansioso.
Recorre ao Serviço de Urgência por quadro de cansaço para pequenos esforços e anorexia de agravamento progressivo nos últimos 15 dias. Descreve perdas hemáticas pelo ânus com 4 meses de evolução. Ao exame objectivo, a doente é descrita como pálida e suada; observam-se hemorroidas à inspeção rectal; sem outras alterações. O hemograma revelou Hb 7.2g/dL, VGM 84.3 fL, Leucócitos 1.700/µL, neutrófilos 46.8%, linfócitos 42.2%, Plaquetas 76.000/µL. Os restantes meios complementares de diagnóstico, não mostraram alterações.
Após administração de 1 unidade de concentrado de eritrócitos, a doente foi internada na medicina para estudo. Na enfermaria, a doente demonstrou ter picos febris intermitentes de 38ºC, com valores de procalcitonina negativos e PCR de 5.0 mg/dL.
Por manter pancitopenia foi realizado medulograma que demonstrou inúmeras formas amastigotas de Leishmânia.
Perante o diagnóstico de Leishmaniose visceral, foi contactada a infecciologia, que recomendou o tratamento com Anfotericina B lipossómica 3mg/kg durante 5 dias, com reforço da dose ao 14º e 21 dias.
Após o início do tratamento a doente ficou apirética e verificou-se melhoria analítica. À data da alta a doente apresentava Hb 8.9 g/dL, Leucócitos 4.000 e Plaquetas 137.000.
Discussão/Conclusão
A leishmaniose é um diagnóstico diferencial a ter em consideração em doentes sob tratamento com imunossupressores que apresentem quadros de pancitopenia.
Em Portugal, embora possam ocorrer casos de Leishmaniose em todo o país, os principais focos são a do Alto-Douro, Lisboa e Algarve. As alterações climáticas que se estão a verificar, nomeadamente o aumento da temperatura com invernos menos rigorosos, poderão ter como consequência o aumento da transmissão do parasita, quer ao Homem, quer aos animais, e concomitantemente, da incidência da doença.
Declaração de conflito de interesses: Declara-se não existirem conflitos de interesses.