“NÃO SABIA QUE TAMBÉM CÁ ESTAVAS!” - CASE-REPORT DE CRIPTOCOCOSE EM DOENTE COM INFEÇÃO INAUGURAL POR VIH
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 008
Autores e Afiliações:
Yuliya Volovetska, Ana Catarina B. Marques, Marco Pinto, Luís Lito, J. Melo Cristino.
Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Introdução
Cryptococcus neoformans é um fungo leveduriforme da forma oval ou arredondada, que possui uma cápsula polissacarídica. É um agente de infeção oportunista, responsável pela maioria dos casos de meningite e meningoencefalite em doentes imunocomprometidos (66-89%), principalmente pela infeção por Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH). A sua correta identificação tem um grande impacto no seguimento, terapêutica e prognóstico do doente.
Caso Clínico
Doente do sexo masculino, 56 anos, melanodérmico, com antecedentes pessoais de asma. Foi admitido no Serviço de Urgência por quadro de afasia com 1 hora de evolução, sendo colocada como hipótese diagnóstica inicial acidente vascular cerebral. À observação na admissão, o doente apresentava-se prostrado e hipoxémico (SatO2 88%, em ar ambiente). No exame neurológico, doente vigil, que cumpriu apenas ordens simples e com lentificação psicomotora e rigidez da nuca. Analiticamente, destacava-se anemia (Hb 10.3 g/dL), LDH 471 U/L e aumento dos parâmetros inflamatórios (PCR 21.2 mg/dL, procalcitonina 2.32 ng/mL). Foi realizada a tomografia computorizada crânio-encefálica que não detetou lesões agudas.
Para esclarecer a etiologia de encefalopatia e para suporte ventilatório, o doente foi internado. Em regime de internamento foi enviado para laboratório uma amostra de líquido cefalorraquidiano (LCR), de aspeto turvo, com depósito celular após centrifugação. No exame citológico, observaram-se apenas várias imagens sugestivas de elementos leveduriformes, que com tinta da china, se confirmou ser um fungo capsulado. Sem alterações no exame químico. Efetuou-se, no LCR, pesquisa de antigénio C. neoformans que foi fracamente positivo. Para o exame microbiológico, a amostra de LCR foi semeada em meio de Gelose de Sangue (GS), Gelose de Chocolate, meio de Tioglicolato e meio de Sabouraud. Após 24h, foi observado desenvolvimento de colónias em meio de GS, que após utilização de matrix-assisted laser desorption/ionization time-of-flight mass spectrometry (MALDI-TOF) permitiu a identificação de C. neoformans. O mesmo agente fúngico foi identificado na hemocultura. Devido à ausência de antecedentes pessoais, procedeu-se ao estudo virológico, que revelou a presença de VIH-1.
Com agravamento do estado de consciência e crescente necessidade de suporte ventilatório, o doente acabou por falecer em menos de 24 horas após a admissão.
Discussão/Conclusão
A infecção grave por C. neoformans é pouco frequente em doentes VIH-positivos sob terapêutica antirretroviral adequada, verificando-se um aumento da incidência, gravidade e mortalidade em doentes não diagnosticados ou com acesso limitado aos cuidados de saúde.
Neste relato de caso, descreve-se uma apresentação inesperada de uma infeção disseminada por C. neoformans num doente com infeção inaugural por VIH, salientando-se o papel basilar do laboratório no diagnóstico atempado desta infeção e a importância do desenvolvimento de programas de deteção e monitorização de infeção.
Declaração de conflito de interesses: Todos os autores declaram, por sua honra, não haver a presença de conflito de interesses
Powered By EmbedPress
