NEURON-SPECIFIC ENOLASE E HEMÓLISE EM DOENTES COM NEOPLASIA DO PULMÃO OU NEUROENDÓCRINA: ESTUDO OBSERVACIONAL RETROSPETIVO
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 022
Autores e Afiliações:
Sílvia Ferreira, Carlos Duarte, Conceição Conceição Cardoso, João Mário Figueira, João Faro Viana.
Serviço de Patologia Clínica – Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
Introdução
A Neuron-specific enolase (NSE) é a subunidade-γ da enzima glicolítica fosfopiruvato hidrolase, presente no citoplasma de neurónios e células neuroendócrinas, sendo um importante marcador tumoral em neoplasias destes tecidos. O carcinoma do pulmão de pequenas células e o neuroblastoma são duas das principais neoplasias associadas ao aumento do valor sérico de NSE, sendo o seu doseamento útil na sua monitorização.
O NSE é libertado aquando da lise celular, inclusive dos eritrócitos, pelo que o seu doseamento é afetado pela hemólise. Sabe-se que a hemólise representa uma das principais fontes de erro na fase pré-analítica, sendo considerada responsável por cerca de 50% dos erros pré-analíticos em alguns estudos. Alguns autores propõe uma correção dos valores medidos de NSE em função da hemólise.
Objetivos e Metodologia
Avaliar a correlação entre os valores de índice de hemólise (IH) e o doseamento do NSE em doentes com neoplasia do pulmão ou neuroendócrina.
Estudo observacional retrospetivo realizado com recurso a dados laboratoriais e clínicos recolhidos dos processos de doentes acompanhados de janeiro de 2017 a dezembro de 2021, com recurso ao software Clinidata XXI e Sclinico. Os critérios de inclusão foram os seguintes: (1) doentes com idade superior a 18 anos; (2) doentes com diagnóstico de neoplasia do pulmão ou neuroendócrina; (3) com pelo menos dois doseamentos de NSE e de IH. O NSE foi doseado através de ensaio de eletroquimioluminescência (ECLIA) no equipamento Cobas e602 (Roche Diagnostics®). O índice de hemólise (IH) foi analisado no equipamento Cobas c702 (Roche Diagnostics®) e foi calculado com base na medição da absorvância em 570 nm e 600 nm. A análise dos dados foi realizada com recurso ao Microsoft Excel 2016 (Microsoft Corporation, Redmont, WA, USA).
Foi avaliada a correlação entre o NSE e o IH e aplicada a fórmula de correção descrita por Charlotte J. e colegas.
Resultados
Foram incluídos 37 doentes (27 do sexo masculino e 10 do sexo feminino), com média de idades de 66.9 anos. A neoplasia mais frequente foi o adenocarcinoma do pulmão (64.9%), seguida dos tumores neuroendócrinos (13.5%). A mediana dos valores de NSE foi 15 (P25= 12, P75= 19) ng/mL e do IH 9 (P25= 6, P75= 20). Verificou-se a existência de uma correlação entre o valor de NSE e IH (rho de Spearman 0.3, p< 0.001).
Observaram-se 3 casos com valores de NSE muito elevados, confirmando-se nos respetivos processos clínicos a existência de doença ativa. Nos restantes, a aplicação da fórmula descrita por Charlotte J. e colegas, que subtrai 0.3 ng/dL ao valor de NSE por cada unidade de IH, corrigiu a maioria dos valores aberrantes (que não correspondiam a recidiva clínica) para os valores de base de cada doente, minimizando o efeito da hemólise.
Conclusões
Este trabalho vem corroborar o impacto significativo do IH no doseamento de NSE. Tratando-se de um marcador tumoral, um doseamento elevado não-expectável pode despoletar investigação desnecessária e invasiva para o doente, podendo ser na realidade um falso positivo.
Para minimizar este erro, sugere-se que um doseamento de NSE seja sempre acompanhado da determinação do IH. Adicionalmente, poderá ser aplicada uma fórmula de correção, sendo que a fórmula utilizada neste trabalho foi validada apenas para as determinações realizadas nos equipamentos Roche Diagnostics®.
Declaração de conflito de interesses: Os autores não têm conflito de interesses a declarar.