REAPRECIAÇÃO DA PERTINÊNCIA DA PESQUISA MICROSCÓPICA DE LEUCÓCITOS NAS FEZES
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 046
Autores e Afiliações:
Carla Barbosa Mendes, José Carlos Oliveira, Marta Rego
Serviço de Química Clínica do Centro Hospitalar Universitário do Porto
INTRODUÇÃO
A calprotectina fecal é uma proteína derivada dos neutrófilos que se correlaciona com a presença destas células no lúmen intestinal. Apresenta-se como um marcador de elevada sensibilidade na demonstração de um processo inflamatório na doença inflamatória intestinal (DII), embora não tenha a capacidade de discriminar a etiologia da mesma. Por apresentar correlação com os índices endoscópicos de atividade da doença inflamatória é utilizada na prática clínica quer no diagnóstico inicial, quer na avaliação de recidiva e de monitorização terapêutica. A pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes é um método simples e económico que tem sido utilizado como ferramenta no diagnóstico diferencial de quadros de diarreia, uma vez que estas células não se encontram habitualmente na matéria fecal.
OBJETIVO
Avaliar a correlação entre a pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes e os valores de diagnóstico e de monitorização da calprotectina fecal.
METODOLOGIA
Análise retrospetiva dos valores de diagnóstico e monitorização da calprotectina fecal e dos resultados qualitativos da pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes de janeiro de 2020 a dezembro de 2021. Foram critérios utilizados na seleção de amostras a presença simultânea do doseamento da calprotectina fecal e da pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes. Os dados foram analisados tendo em conta duas perspetivas: (1) perspetiva diagnóstica e (2) perspetiva de monitorização de doença. Os intervalos de referência considerados para interpretação dos valores da calprotectina fecal para fins diagnósticos foram os seguintes: < 50µg/gFEZES – ausência de inflamação gastrointestinal; >50µg/gFEZES – presença de inflamação gastrointestinal. Para fins de monitorização de doença foram considerados os seguintes intervalos de referência: < 100µg/gFEZES – baixo risco de recidiva; >100µg/gFEZES – risco de recidiva presente. A pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes foi realizada numa suspensão de fezes em soro fisiológico em microscopia de campo claro, cujo resultado foi descrito como positiva ou negativa.
RESULTADOS
No período estudado foram analisadas 110 amostras que cumpriam os critérios de seleção. Considerando o doseamento da calprotectina fecal para fins de diagnóstico a pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes apresenta uma sensibilidade de 20.2% e uma especificidade de 92.3%. Verificou-se um valor preditivo positivo (VPP) de 89.5% e um valor preditivo negativo (VPN) de 26.4%.
De uma perspetiva de monitorização, a pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes apresenta uma sensibilidade de 18.3% e uma especificidade de 84.6%. O VPP foi de 68.4% e o VPN de 36.3%.
CONCLUSÕES
A calprotectina fecal é o marcador mais sensível de inflamação no contexto da DII. A literatura atual não preconiza a pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes no diagnóstico de doença inflamatória intestinal. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que a pesquisa microscópica de leucócitos nas fezes apresenta elevada especificidade e um VPP elevado especialmente no diagnóstico de DII, no entanto apresenta uma sensibilidade e um VPN muito baixos, quer em contexto diagnóstico, quer no de monitorização de DII, pelo que se questiona a utilidade da mesma na prática clínica dados os recursos analíticos atualmente disponíveis.
Declaração de conflito de interesses: Os autores não apresentam conflitos de interesse.