SE HÁ PARASITA, HÁ MIÍASE ACIDENTAL?
Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 007
Autores e Afiliações:
Joana Caniço, Maria Miguel Resende, Nadiya Kruptsala, Luís Abel Gouveia, Carlos Seabra, Elmano Ramalheira.
Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar Baixo Vouga
Introdução
A miíase é uma doença parasitária e os agentes patogénicos são as larvas de moscas dípteras. Clogmia albipunctatus, família Psychodidae, pode causar miíase urogenital, intestinal e até nasofaríngea, após deposição de ovos e/ou ingestão de água ou alimentos contaminados. Como a miíase intestinal humana é uma causa incomum de manifestações gastrointestinais, o diagnóstico dificilmente é puramente clínico.
Caso Clínico
Relatamos um caso clínico de diagnóstico difícil, para o qual a colaboração de Patologia Clínica se mostrou determinante. Trata-se de uma adolescente, 17 anos, que recorre ao seu médico por dor e distensão abdominal recorrente, obstipação, eructação e náuseas. Realizou tratamento com vários desparasitastes e laxante, com melhoria sintomática parcial. Um mês após o início sintomatologia, foram observadas em amostras fecais por microscopia de luz de campo-claro larvas segmentadas, compostas por cabeça e 13 segmentos (3 torácicos e 10 abdominais); medindo cerca de 1–1,2 cm de comprimento e cor maioritariamente castanho escuro, face ventral mais clara; faces lateral e dorsal dos segmentos corporais pareciam recobertas por 26 placas de quitina escura em forma de selas, duas para cada segmento; a cabeça era protuberante, de formato triangular, com duas antenas peludas e duas mandíbulas ventrais; aparelho bucal do tipo mastigatório; ao longo do comprimento do corpo começa com espiráculos anteriores no protórax e termina por um par de espiráculos posteriores, no segmento terminal; o abdómen termina com um sifão mais longo do que largo, formato cônico com espiráculos posteriores apicais e papilas espinhosas anais ventrais. Estes achados morfológicos permitiram definir a sua família taxonómica como Psychodidae. Com esta classificação preliminar iniciou-se tratamento empírico, com Ivermectina em toma única oral, com melhoria dos sintomas gastrointestinais. Contudo, continuaram a detetar-se larvas em amostras fecais, pelo que se optou por tratamento em regime de internamento. As larvas isoladas foram enviadas para o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que confirmou o género Clogmia da larva. Mantém-se a dúvida da relação de causalidade, mas a identificação da mosca potencialmente responsável contribuiu para a suspeita de um foco provável nas canalizações do Wc no domicílio e após remodelação deste e isolamento das caixas de saneamento, não houve nova suposta eliminação de larvas.
Conclusão
O diagnóstico e tratamento específico das infeções parasitárias humanas depende da confirmação laboratorial para diferenciação do agente infecioso. Este é um caso raro, que embora sem complicações graves, teve grande impacto psicológico na adolescente, previamente saudável. Destaca-se a importância da identificação da espécie da larva, pela especialidade de Patologia Clínica, que assim facilita a resolução da doença. Além dos métodos usados no nosso laboratório poderá usar-se para esta identificação, métodos mais detalhados e precisos, tais como o microscópio eletrónico e até biologia molecular. Atualmente, as técnicas realizadas no setor de Parasitologia são predominantemente manuais, sendo afetadas por variáveis dependentes do operador, tais como, experiência do profissional.
Declaração de conflito de interesses: Sem conflito de interesses