SÍFILIS SECUNDÁRIA: CASO CLÍNICO EM ADULTO JOVEM

Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica 

Poster Número: 055

Autores e Afiliações:

Ana Ferreira, Rui Freitas, Marco Assunção, Paula Mota.

Serviço de Patologia Clínica, Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães (HSOG), EPE

INTRODUÇÃO

A sífilis é uma doença infeciosa sistémica causada pelo Treponema pallidum, uma espiroqueta anaeróbia facultativa e catalase negativa, e cuja incidência global ronda os 10 milhões de novos casos por ano.1 A infeção geralmente é transmitida por meio de contato sexual, mas também pode ocorrer através do contacto cutâneo ou transplacentário (sífilis congénita).2 A doença é caracterizada por 3 fases clínicas sequenciais e sintomáticas que alternam com longos períodos de infecção latente assintomática: (1) sífilis primária com lesão genital geralmente indolor e linfadenopatia regional; (2) sífilis secundária com erupção cutânea difusa nas mãos e nos pés; e (3) sífilis terciária com manifestações oculares, ósseas, cardiovasculares e cerebrais (neurosífilis).4

CASO CLÍNICO

Neste trabalho, apresentamos o caso clínico de um homem de 33 anos, que recorre ao SU do HSOG por desconforto e prurido perianal com 3 dias de evolução e sem outros sintomas relevantes. Refere ter tido um contacto sexual de risco 2 meses antes e sem qualquer noção sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST). Ao exame objetivo, observaram-se lesões maculopapulares não pruriginosas dispersas no tronco e na face, que o doente refere terem surgido 2 semanas antes com agravamento progressivo e atingimento das palmas das mãos e plantas dos pés. Também apresentava hipersensibilidade na região inguinal mas sem adenomegalias, drenagem peniana ou ulcerações. Analiticamente, sem leucocitose (7,8 x 109/L) e com elevação da PCR (16,6 mg/L). TGO 149, TGP 297, GGT 132 e FA 165 UI/L. Restantes parâmetros analíticos normais. A ecografia abdominal mostrou uma hepatomegalia com aumento difuso da ecogenicidade. O doente ficou internado no Serviço de Medicina Interna por exantema maculopapular e citólise hepática. Foi solicitado o estudo dos marcadores víricos, serologias EBV e CMV e o screenning da sífilis. O rastreio da sifílis foi positivo (screenning 30.27, RPR 1/64). Além disso, as serologias da sífilis confirmaram infeção em fase aguda (IgG > 2.500 IgM > 5,0 ). Restante estudo: HepA IgG positivo, Hepatite B/C/HIV negativas, CMV positivo (IgG 17,9 IgM (neg) 1,080; HSV positivo atc anti herpes simples1 IgG 16,3 IgM (neg): < 0,5; EBV IgM pos >160 U/mL. O doente foi tratado com penicilina benzatina intramuscular de toma única e teve alta para domicílio, encontrando-se atualmente a ser seguido em Consulta de Doenças Infeciosas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este caso alerta para a importância de se estabelecer um diagnóstico precoce de sífilis, uma vez que existe terapêutica disponível e de baixo custo e cuja instituição atempada e adequada associa-se a uma recuperação favorável na maioria dos doentes, evitando-se complicações de maior gravidade. Apesar de ser uma doença infeciosa bem reconhecida pela comunidade médica, o largo espetro de sinais e sintomas e as diferentes fases clínicas que podem acompanhar a sífilis contribuem para que ainda na atualidade a sífilis continue a ser uma doença subdiagnosticada que pode evoluir para complicações fatais.

Keywords: Sifílis; Treponema pallidum; doenças sexualmente transmissíveis

Declaração de conflito de interesses: Não existe conflito de interesses.