STREPTOCOCCUS CONSTELLATUS PHARYNGIS: DA COMENSADALIDE AO EMPIEMA

Evento: XI Congresso Nacional de Patologia Clínica 

Poster Número: 029

Autores e Afiliações:

Bernardo Ribeiro da Silva, Filipa Silva, Gina Marrão, Ana Bento Pinto, Yuliya Sydor, Ricardo Castro.

Serviço de Patologia Clínica; Centro Hospitalar Leiria, E.P.E

Introdução

Streptococcus constellatus são pequenos cocos gram-positivo, anaeróbios facultativos, constituintes da flora comensal da cavidade oral, trato gastrointestinal e urogenital. Pertence ao grupo de agentes comensais Streptococcus milleri. Considerando a comensalidade deste grupo de agentes, o respetivo potencial patogénico é frequentemente negligenciado; contudo, podem ser causa de infeções do trato respiratório, nomeadamente de derrames pleurais e abcessos.

Caso Clínico

Homem, 67 anos, com antecedentes pessoais de alcoolismo, recorre ao serviço de urgência por tosse e dor do tipo pleurítico no hipocôndrio direito, com 3 dias de evolução. À admissão apresentava-se febril (38.5ºC). Analiticamente, com leucocitose (13200/uL), neutrofilia (9600/uL) e PCR 191 g/dL. A gasometria arterial evidenciou a presença de insuficiência respiratória tipo 1. A radiografia torácica demonstrou a presença de hipotransparência no terço inferior do pulmão direito e a TC-tórax revelou um derrame pleural multilocular e enquistado, com atelectasia do lobo inferior direito. Realizou toracocentese diagnóstica com saída de líquido cítrico concentrado. A avaliação citoquímica do líquido pleural revelou caraterísticas de exsudato, com um pH 8, LDH 1331 UI/L (relação LDH no líquido pleural/soro de 11), glicose 0,3 mg/dL, proteínas 49,7 mg/dL (relação proteínas totais no líquido pleural/soro de 0,84), ADA 10,6; o exame citológico demonstrou um líquido turvo, com um total de 2606 células nucleadas e 80% de polimorfonucleares. Iniciou antibioterapia empírica intravenosa com ceftriaxone, metronidazol e clindamicina. Relativamente ao estudo microbiológico, das garrafas de cultura, aeróbia e anaeróbia, inoculadas com líquido pleural e incubadas no BacT/ALERT® Virtuo®, bioMérieux foi sinalizada como positiva a garrafa anaeróbia. Foi realizada subcultura a gelose de sangue, incubada em aerobiose e anaerobiose a 37ºC. As colónias isoladas foram identificadas por espectrofotometria (VITEK®2, bioMérieux) como Streptococcus constellatus pharyngis. O teste de suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA) revelou suscetibilidade à ampicilina, benzilpenicilina, cefotaxime, ceftriaxone, teicoplanina, vancomicina, gentamicina e clindamicina. Após a disponibilização dos resultados a antibioterapia foi descalada para amoxicilina/ácido clavulânico e claritromicina oral, com boa evolução clínica.

Conclusões

O grupo Streptococcus milleri é constituído por três espécies distintas: Streptococcus intermedius, Streptococcus constellatus e Streptococcus anginosus. Apesar da similaridade fenotípica dentro do grupo, a distinção é importante na medida em que a primeira espécie parece ser mais frequentemente associada a maior patogenicidade. Apesar da comensalidade deste grupo de agentes, a associação a infeções do trato respiratório complicadas está descrita na literatura, especialmente na presença de imunossupressão. Assim, a identificação do agente na amostra de líquido pleural e o conhecimento do perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos permitiu um melhor ajuste terapêutico, com a seleção de antibioterapia mais dirigida administrada por via oral. No presente caso, em que o único fator de risco conhecido era o alcoolismo e sendo este um agente comensal, deveria ser confirmado pela segunda cultura. Contudo, não se realizou tendo em conta a boa evolução clínica.

Declaração de conflito de interesses: Os autores declaram não ter conflitos de interesse

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