A IMPORTÂNCIA DA BIOLOGIA MOLECULAR NO DIAGNOSTICO PRECOCE DA MENINGOENCEFATLITE VÍRICA
Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 014
Autores e Afiliações:
Margarida Freitas, Rui Freitas, Sofia Novo, Paula Mota.
Serviço de Patologia Clínica – Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães
Introdução: As infeções mais frequentes do Sistema Nervoso Central são a meningite e a encefalite/meningoencefalite. A encefalite é uma inflamação do encéfalo que, quando associada à inflamação das meninges, se designa por meningoencefalite. A etiologia é habitualmente infeciosa, por agente bacteriano ou vírico. Exige diagnóstico precoce uma vez que progride rapidamente, estando associada a elevada taxa de morbimortalidade. A Patologia Clínica pode dar precioso contributo no diagnóstico, para rápida instituição de terapêutica.
Caso clínico: Homem de 29 anos, habitualmente assintomático do foro cardiovascular, sem queixas para atividades diárias ou episódios de síncope prévios, recorre ao SU após episódio de perda de consciência no domicílio. Referia queixas de cefaleia com fotofobia, cervicalgia, febre e vómitos com 6 dias de evolução, motivos pelos quais havia recorrido ao SU 3 vezes tendo tido alta com tratamento sintomático. Sem antecedentes pessoais ou medicação habitual. No SU realizou estudo analítico (hemograma, bioquímica), ECG, ecocardiograma transtorácico, AngioTC-CE e TC-coluna cervical, todos sem alterações de relevo. Ficou em observação no SU onde, por novo agravamento da cefaleia com foto e fonofobia, foi decidida a realização de punção lombar. O LCR obtido mostrava-se com aspeto ligeiramente turvo, evidência de pleocitose com 390 leucócitos/uL com predomínio de células mononucleares (99%). Apresentava ainda cloretos 121 mEq/L, glicose 40 mg/dL e proteínas 177.6 mg/dL. Perante estes resultados o Serviço de Patologia Clínica disponibilizou a realização do painel Meningitis/Encephalitis no sistema multiplex PCR FilmArray® (BioFire Diagnostics) identificando o vírus Varicela-Zoster como agente etiológico da infeção, em cerca de 1 hora, permitindo iniciar de imediato terapêutica dirigida com Aciclovir. Ao terceiro dia de internamento foram notadas vesículas na região frontal à direita, em vários estadios de evolução. Realizou também o doseamento de IgM e IgG anti-Varicela Zoster, por quimioluminescência no equipamento LIAISON® (DiaSorin) (IgM 0,199 mIU/mL e IgG 2431 mIU/mL). Ao oitavo dia de aciclovir repetiu os doseamentos, apresentando nessa altura IgM 0,403 mIU/mL e IgG 14740 mIU/mL, o que documenta reinfeção pelo agente.
Conclusão: O diagnóstico precoce e consequente tratamento adequado da meningoencefalite vírica são fundamentais para reduzir a mortalidade e morbilidade que lhe está associada. A Patologia Clínica, ao dispor de métodos moleculares de diagnóstico, fornece resultados fiáveis num curto período de tempo, o que acarreta inúmeros benefícios, nomeadamente a instituição da terapêutica adequada à etiologia e a tomada de medidas de controlo de infeção, se necessárias, tendo impacto não só para o doente como para a população em geral.