ACTINOMICOSE MAMÁRIA EM DOENTE NÃO PUÉRPERA - UM CASO CLÍNICO POUCO PROVÁVEL

Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica

Poster Número: 031

Autores e Afiliações:

Miriam Gonçalves Sousa, Mariana Villalobos, Cristina Catela, Margarida Pereira, Filipa Vicente, José Alves, Nuno Canhoto

Serviço de Patologia Clínica – Hospital Central do Funchal

Introdução: A mastite é um processo inflamatório da mama, com ou sem infeção, relativamente comum, que predomina nas mulheres durante o período de amamentação. A maioria dos abcessos mamários desenvolvem-se quando a mastite não responde ao tratamento com antibióticos, porém um abcesso também pode ser a primeira apresentação da infeção mamária. A mastite infeciosa e os abcessos mamários são predominantemente causados por bactérias que colonizam a pele. A maioria é causada por Staphylococcus aureus e, em menor frequência causada por Staphylococcus coagulase negativos. A actinomicose é uma doença bacteriana invasiva pouco frequente. É principalmente causada por Actinomyces spp., bacilos Gram-positivos anaeróbios que colonizam principalmente a flora comensal humana da orofaringe, trato gastrointestinal e trato urogenital. Geralmente apresenta-se como uma infeção indolente e lentamente progressiva caracterizada pela formação de abcesso e as apresentações clínicas típicas são: actinomicose cervicofacial, actinomicose pélvica e actinomicose pulmonar. Actinomyces israeliié é a espécie mais isolada em infeções humanas e é encontrada na maioria das formas clínicas de actinomicose. Actinomyces neuii é menos comum e existem poucos casos relatados de infeções este microorganismo. Os abcessos são a manifestação mais comum da infeção por Actinomyces neuii sendo, no entanto raros os casos descritos de actinomicose com abcesso mamário.
Caso Clínico: Mulher de 48 anos de idade com história de patologia psiquiátrica, hipertensão e hábitos tabágicos dirige-se ao serviço de urgência devido a tumefação peri-aureolar na mama direita com aproximadamente dois meses de evolução. Ao exame físico a mama direita apresentava eritema cutâneo e doloroso ao toque, mama esquerda sem alterações e sem linfadenopatia axilar. Não havia história de febre, traumatismo mamário ou sinais ou sintomas que indicassem qualquer doença pulmonar. A mamografia e a ecografia realizadas revelaram um espessamento da pele perimamilar direita, com um aumento da densidade correspondente a uma coleção irregular de paredes espessadas. O abcesso foi drenado e o conteúdo purulento foi enviado ao laboratório para estudo microbiológico. No exame cultural houve crescimento de colónias em placas de ágar de sangue incubadas em atmosfera anaeróbia. Foi possível identificar um Actinomyces Neuii pela metodologia MALDI-TOF MS (Bruker®). A doente iniciou terapêutica prolongada com amoxicilina e ácido clavulânico.
Discussão: Cerca de 80% das infeções primárias por actinomicose são causadas por Actinomyces Israelii, estando o Actinomyces neuii raramente implicado. Actinomyces spp. são normalmente susceptíveis aos beta-lactâmicos, especialmente à penicilina G ou à amoxicilina. Actinomyces neuii é um bacilo gram-positivo raramente implicado em infecções humanas. No entanto, sua ocorrência está sendo cada vez mais reconhecida devido ao uso de sistemas de identificação aprimorados como o aumento do uso da metodologia MALDI-TOF MS. A actinomicose é raramente observada e desta forma, os médicos devem comunicar com o laboratório quando existe suspeita de actinomicose para garantir que a cultura seja realizada em meios e condições apropriadas.

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