CAMPILOBACTERIOSE SISTÉMICA - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica

Poster Número: 032

Autores e Afiliações:

Miriam Gonçalves Sousa, Mariana Villalobos, Helena Madeira Trinca, Cristina Catela, Margarida Pereira, Filipa Vicente, José Alves, Nuno Canhoto

Serviço de Patologia Clínica – Hospital Central do Funchal

Introdução: A infeção por Campylobacter spp. é uma importante causa de diarreia em todo o mundo. A transmissão da infeção está relacionada com o consumo de alimentos ou água contaminados. Quadros de infeção sistémica são raros, ocorrendo sobretudo em indivíduos imunocomprometidos. Este trabalho tem como objetivo a descrição de um caso clínico no qual o diagnóstico de campilobacteriose sistémica foi possível devido à utilização do MTB Sepsityper®IVD Kit no sistema automatizado de identificação MALDI-TOF MS (Bruker®). Este novo kit permite uma identificação direta de uma grande variedade de bactérias e fungos pela metodologia MALDI-TOF MS a partir de hemoculturas positivas em cerca de 15-20 min.
Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 50 anos, com antecedentes de Imunodeficiência Comum Variável, Doença Hepática Crónica e Doença de Crohn, enviada ao serviço de urgência alteração das provas hepáticas e aumento do perímetro abdominal com agravamento progressivo. Ao exame objetivo apresentava pele e mucosas descoradas e abdómem mole e distendido com ascite moderada sem tensão. Analiticamente apresentava: Hg 10.7 g/dL; leucócitos 19.000μL; neutrófilos 14.800 μL; GGT 108.9 U/L; GOT 45.2 U/L; GPT U/L; FA 468 U/L; albumina 21.5 g/L; LDH 342 U/L; PCR 8.49 mg/L . TC abdomino-pélvica com volumoso derrame peritoneal e derrame pleural bilateral. Líquido ascítico com 635 células de predomínio mononuclear. Exames bacteriológicos de líquido ascítico, sangue periférico e urina em curso. A realçar estudo parasitológico das fezes da semana anterior positivo para Giardia lamblia. Foi internada no serviço de Gastroenterologia com quadro de descompensação da doença hepática crónica por retenção hidrossalina. A hemocultura aeróbica, introduzida no sistema de leitura automática de crescimento (Bactec®) foi sinalizada como positiva após 49h. Foi possível identificar o Campylobacyter jejuni a partir da hemocultura positiva utilizando o MTB Sepsityper®IVD Kit no MALDI-TOF MS (Bruker®). Posteriormente, realizou-se a confirmação desta identificação por exame direto e cultural. No exame direto, após coloração com gram foi possível observar bacilos gram negativo em forma de espiral, vírgula ou asa de gaivota. Já o exame cultural foi realizado sob condições que possibilitassem o crescimento desta bactéria nomeadamente, hemocultura semeada em meio seletivo para Campy e incubado durante 3 dias em estufas de 42⁰ com geradores de microaerofilia. A doente iniciou antibioterapia com eritromicina. Teve uma boa evolução do estado geral com alta clínica no 8º dia de internamento.
Discussão: O caso alerta para a capacidade de invasão sistémica deste agente e para o papel crucial da realização de procedimentos adequados ao isolamento de Campylobacter jejuni. Este novo kit demonstrou ser uma mais-valia para a identificação de bactérias com capacidade de invasão sistémica menos comuns principalmente em doentes imunocomprometidos visto que permitiu o diagnóstico rápido e tratamento dirigido. É importante salientar que, neste caso particular o uso do MTB Sepsityper® IVD Kit foi determinante na identificação do Campylobacter jejuni uma vez que, a sua identificação não se encontra disponível nos painéis dos testes moleculares rápidos do serviço.

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