COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DE DOIS IMUNOENSAIOS PARA O DOSEAMENTO DE PEPTÍDEO-C
Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 050
Autores e Afiliações:
Tânia Cardoso, Margarida Peixinho, Eulália Costa, Lucília Araújo, Fernando Rodrigues
Serviço de Patologia Clínica – CHUC
Introdução: O Peptídeo-C consiste num subproduto inativo, de 31 aminoácidos que resulta da clivagem da pró-insulina, sendo co-secretado com a insulina em quantidades equimolares, na circulação portal. Tem origem nas células β-pancreáticas e é utilizado como biomarcador da sua função, por ser uma molécula mais estável: tem uma semivida maior que a da insulina, é libertado na circulação periférica a uma taxa mais constante e tem eliminação hepática insignificante. Os seus níveis traduzem a quantidade de insulina produzida pelo organismo de forma mais fiável que o doseamento da própria insulina. Por outro lado, a maioria do Peptídeo-C sofre metabolização renal, o que pode enviesar os resultados nos doentes com doença renal crónica. São duas as principais indicações para doseamento de Peptídeo-C. Uma consiste no estudo da hipoglicémia em jejum, permitindo auxiliar no diagnóstico diferencial; a outra indicação refere-se à avaliação da reserva de insulina em doentes diabéticos, discriminando os que necessitam ou não de insulinoterapia. Enquanto ferramenta diagnóstica, as orientações atuais limitam a sua utilização nos casos incomuns ou ambíguos de diabetes. Estudos apresentam-no como importante biomarcador de prognóstico e de previsão de complicações associadas à diabetes. Em termos laboratoriais os doseamentos são comumente realizados por ensaios imuno-enzimáticos, de forma totalmente automatizada ou semiautomatizada.
Objetivos e Metodologias: Com a realização do trabalho pretendeu-se comparar o desempenho de dois imunoensaios totalmente automatizados para determinação de Peptídeo-C. Foram obtidas 80 amostras de soro de 36 homens e 44 mulheres, com uma média de idades de 53±11 anos. Cada amostra foi processada em dois equipamentos: o Alinity i/Abbott® (valor de referência (VR): 0,78 – 5,19 ng/mL) que faz o processamento de amostras por imunoensaio de micropartículas quimioluminescentes; e o Immulite/Siemens® (VR: 1,0 – 7,6 ng/mL), cuja metodologia é a de imunoensaio quimioluminescente competitivo de fase sólida. Os resultados obtidos foram analisados utilizando a Correlação de Pearson e foi avaliado o seu impacto na decisão clínica.
RESULTADOS: No equipamento Alinity i/Abbott® o valor médio do Peptídeo-C foi de 2,01±1,48 ng/dL (min:0,01 ng/dL e max:8,06 ng/dL). Foram encontrados 14 resultados fora do intervalo de referência. No equipamento Immulite/Siemens® o valor médio do Peptídeo-C foi de 2,01±1,62 ng/dL (min:0,1 ng/dL e max:9,03 ng/dL). Verificaram-se 16 resultados fora dos limites de referência. A comparação de resultados entre os dois equipamentos mostrou uma correlação fortemente positiva (r2=0,98), uma vez que foram praticamente sobreponíveis. Em 3 doentes (3,75%) a interpretação dos resultados, face aos VR dos fabricantes, mostrou-se discrepante, sem impacto na decisão clínica.
Conclusão: Doenças endocrinológicas como a diabetes tem uma elevada prevalência entre a população portuguesa sendo que, moléculas que auxiliem na decisão clínica, como o Peptídeo-C, são essenciais. Igualmente importante é a capacidade de resposta do laboratório e a existência de múltiplas opções de automatização que se possam revelar facilitadoras da definição de fluxos de trabalho. Pela excelente correlação demonstrada, os dois imunoensaios estudados constituem, qualquer deles, uma opção de automatização válida para os laboratórios clínicos.