CONTRIBUTO DA HEMATOLOGIA LABORATORIAL E DO LABORATÓRIO DE CITOMETRIA DE FLUXO NOS DISTURBIOS LINFOPROLIFERATIVOS PÓS-TRANSPLANTE – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica

Poster Número: 055

Autores e Afiliações:

Laís Simonato Altoé(1), Carla Mendes(2), Pedro Baptista(3), Catarina Faria Coelho(2), Ana Duque Ferreira(2), Paulo Paulino(2), Filipe Santos(2), Catarina Lau(4), Maria dos Anjos Teixeira(4)

1 – Serviço de Patologia Clínica – CHUP, 2 – Serviço de Hematologia Laboratorial – CHUP, 3 – Serviço de Hematologia Clínica, CHUSJ, 4 – Laboratório de Citometria de Fluxo da Unidade Diagnóstico Hematológico Margarida Lima, CHUP

Introdução: Os distúrbios linfoproliferativos pós-transplante (DLPT) são proliferações linfocíticas e/ou plasmocíticas, sendo das complicações mais graves e potencialmente fatais do transplante. Na maioria dos doentes, relacionam-se com a proliferação de células B induzidas pelo vírus Epstein-Barr (EBV), em contexto de imunossupressão crónica de células T. Aproximadamente 0,8 a 1,9% dos adultos submetidos a transplante hepático desenvolverão DLPT nos seis anos após o transplante. O presente caso clínico evidencia o desenvolvimento de um Linfoma de Burkitt (LB) em contexto pós-transplante, com as mesmas características morfológicas e imunofenotípicas dos que ocorrem nos doentes não transplantados.
Caso Clínico: Homem, 42 anos, transplantado hepático (TH) por Paramiloidose Familiar em 2020, admitido no Centro Hospitalar por parestesias nos membros, queixas álgicas, sem, contudo, noção de diminuição da força muscular. De acordo com o TH realizado, o doente cumpriu terapêutica de indução com micofelonato de mofetil (MMF) e prednisolona, tendo feito tratamento de manutenção com tacrolimus e MMF. À admissão, a ecografia abdominal descrevia esplenomegalia homogénea, hepatomegalia com parênquima marcadamente heterogéneo e nódulos renais suspeitos. Analiticamente, não apresentava alterações ao nível do eritrograma, função renal, ionograma, cálcio ou fósforo, apresentando elevação de ácido úrico (11,3 mg/dL), DHL (4752 U/L), GGT (564 U/L), AST (124 U/L) e ALT (79 U/L), e trombocitopenia (35000/uL). O rastreio de citomegalovirus (CMV) foi negativo e, a pesquisa do EBV por Biologia Molecular, foi positiva. O esfregaço de sangue periférico (SP) revelou presença de 14% de células imaturas, de tamanho médio a grande, com citoplasma intensamente basófilo, com relação núcleo-citoplasma aumentada, cromatina pouco condensada, esboçando por vezes nucléolo. O estudo citomorfológico do aspirado medular (AM) foi descrito como normocelular, raros megacariócitos e plaquetas muito diminuídas. Revelou ainda a presença de 71,5% de células imaturas, de tamanho médio a grande, citoplasma basófilo, relação núcleo-citoplasma aumentada, núcleo com cromatina pouco condensada, algumas células com vacúolos citoplasmáticos e/ou nucleares, e reação das mieloperoxidases negativa. A imunofenotipagem por citometria de fluxo (CF) do AM apresentava, na maioria das células B (98%), características imunofenotípicas anormais, com tamanho médio-grande e expressão de CD19 (ligeiramente diminuído), CD20, CD10 (forte), CD38 (forte), CD79a intra-citoplasmático, CD81, BCL2 heterogéneo (expresso em 86% das células) e cadeias leves kappa. Contudo, sem expressão de CD5, CD34 ou nTdT. Na pesquisa por hibridização fluorescente in situ (FISH) de translocações envolvendo o gene IgH t(14q32) e o gene MYC t(8q24), foi detetada translocação do gene MYC em 32% das células. Neste sentido, evidencia-se o envolvimento medular por doença linfoproliferativa B com características fenotípicas de LB. Posteriormente, o estudo do líquor por CF revelou-se inocente. O doente iniciou tratamento quimioterápico para LB e fez profilaxia para invasão do sistema nervoso central com fármacos intratecais.
Considerações Finais: O LB raramente é observado na DLPT. Torna-se importante identificar a sua associação, uma vez que implica terapêutica dirigida adjuvante com quimioterapia e não apenas ajuste da imunossupressão. Desta forma, o estudo morfológico e fenotípico do SP e do AM mostrou-se fundamental no diagnóstico e monitorização destes doentes, tendo sido crucial o papel da Hematologia Laboratorial e do Laboratório de CF.

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