DOSEAMENTO DE ÁLCOOL EM URGÊNCIA DE PEDIATRIA: RESULTADOS DE UM LABORATÓRIO HOSPITALAR
Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 066
Autores e Afiliações:
Gonçalo Torres, Ana Ferreira, Hermínia Marques, Marco Assunção, Paula Mota
Serviço de Patologia Clínica do Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães
Introdução: O consumo de álcool nas crianças e adolescentes é um problema de saúde prevalente na atualidade, estando fortemente associado a comportamentos de risco, alterações neurocognitivas e dependência na idade adulta. O álcool é absorvido ao longo do trato gastrointestinal sendo que o pico de concentração plasmática ocorre aproximadamente 60 minutos após ingestão. Cerca de 95% é oxidado pela enzima álcooldesidrogenase (ADH). Em crianças menores de 5 anos a imaturidade da desidrogenase hepática diminuí a sua capacidade de metabolizar o álcool, aumentando rapidamente os seus níveis sanguíneos e causando intoxicação. Em contexto laboratorial, a determinação quantitativa de álcool é feita em amostras de soro por analisadores automáticos, através de uma técnica cinética bicromática que se baseia na oxidação do etanol pela enzima álcooldesidrogenase, com monitorização da oxidação do NADH.
Objetivos e Metodologia: Avaliação retrospetiva baseada na análise dos resultados de doseamento de álcool sérico em menores de 18 anos (pedidos pelo Serviço de Pediatria em contexto de Urgência) num laboratório de Patologia Clínica hospitalar, durante os últimos 5 anos (entre 1 de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2021). A quantificação de álcool no sangue foi realizada no analisador automático Atellica® Solution (Siemens®). Foram incluídas crianças e adolescentes com um valor de álcool no sangue superior a 0,1 g/L. A análise dos resultados foi efetuada no software Excel®.
Resultados: Foram registados 281 doseamentos de álcool. A idade média dos testados foi de 13,9 anos. Os jovens do sexo masculino representaram 61,6% dos testados. O número de doseamentos de álcool foi estável ao longo dos 5 anos analisados: 59 em 2017; 51 em 2018, 53 em 2019, 52 em 2020 e 66 em 2021. A idade média dos testados diminuiu (de 14,9 anos em 2017 para 13,2 anos em 2021) Dos 281 doseamentos realizados, 165 foram positivos (58,7%). A idade média dos jovens com doseamento positivo foi de 14,6 anos. A taxa de positividade foi de 59% nos sujeitos do sexo masculino e 57% nos do sexo feminino. O valor médio de álcool (entre todos os testes positivos) foi de 0,931 g/L. O valor mais elevado registado foi de 3,27 g/L. 15,1% dos doseamentos positivos registaram-se em menores de 13 anos (pré-adolescência). Especificamente nesta faixa etária a taxa de positividade atingiu os 42% e o valor mais elevado registado foi de 1,57 g/L.
Conclusões: O estudo do doseamento de álcool em idade pediátrica permitiu conhecer melhor a realidade hospitalar deste problema de saúde bem como ajudar a padronizar a abordagem à intoxicação alcoólica aguda no Serviço de Urgência Pediátrica. A elevada taxa de positividade encontrada reforça a importância desta análise inclusivamente nas faixas etárias onde este tipo de diagnóstico seria mais improvável. Crianças com menos de 10 anos expostas ao álcool geralmente apresentam sinais e sintomas clínicos mistos que podem ser diferentes da típica apresentação sedativo-hipnótica. A relevância do doseamento de álcool no contexto do Serviço de Urgência reside precisamente na capacidade de rapidamente confirmar ou excluir este tipo de diagnóstico que pode constituir uma emergência pediátrica.