INTERFERÊNCIA DO DARATUMUMAB NA AVALIAÇÃO DA RESPOSTA AO TRATAMENTO NO MIELOMA MÚLTIPLO: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica

Poster Número: 013

Autores e Afiliações:

Filipa Gamboa, Alexandra Mendes, Patrícia Silva, Ana Valente, Ana Matos, Raquel Serra.

Serviço de Patologia Clínica – CHLO 

Introdução: O Mieloma Múltiplo (MM) é uma doença devida à proliferação neoplásica de um clone de plasmócitos diferenciados que, na sua maioria, secretam níveis elevados de uma proteína monoclonal. Esta doença representa 1% – 1,8% de todos os cancros, sendo a segunda neoplasia maligna hematológica mais comum. Em 2015/2016, a Food and Drug Administration e a Agência Europeia do Medicamento aprovaram para o tratamento do MM o Daratumumab, um anticorpo monoclonal humano (mAb) IgG K, que pode ser observado como uma pequena banda monoclonal quer na eletroforese de proteínas (EPS) como na imunofixação (IMFx) séricas. Uma das possíveis classificações da resposta à terapêutica do MM é a resposta completa (RC), definida pelo cumprimento dos seguintes critérios: pesquisa de CM no soro/urina negativa na EPS e na IMFx e, plasmócitos na medula óssea ≤5%. Nos doentes com MM IgG k, a banda monoclonal deste fármaco pode interferir na interpretação dos resultados da monitorização da resposta ao tratamento, especialmente na RC. O nosso laboratório dispõe de um kit com um anti-soro específico anti-Daratumumab (HYDRASHIFT 2/4 daratumumab, Sebia), que permite diferenciar o fármaco da imunoglobulina endógena.
Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 65 anos, caucasiano, enviado à consulta de Hematologia, em junho 2015, por MM. Após realização de estudo dirigido (medular, imagiológico, analítico e genético) foi-lhe diagnosticado MM IgG k indolente, tendo permanecido sob vigilância clínica. Em 2021, apresentou agravamento dos sintomas com estadiamento I do ISS e R-ISS I risco standard. Iniciou tratamento com protocolo CyBorD (ciclofosfamida, bortezomib, dexametasona) para doentes elegíveis para transplante de medula óssea. Realizou 5 ciclos terapêuticos, apenas com resposta parcial (RP), tendo por isso iniciado tratamento de 2ª linha com o protocolo DRd (Daratumumab, Lenalidomida e dexametasona) na perspetiva de aprofundar a resposta. Na avaliação laboratorial da resposta à terapêutica, a EPS revelou um pequeno pico monoclonal a migrar na fração ϒ. Com o objetivo de confirmar se se tratava da Imunoglobulina endógena ou do Daratumumab, o laboratório utilizou o kit Hydrashift, que permitiu assegurar que a banda correspondia ao fármaco, e não à IgG K endógena. Confirmou-se assim que o doente se encontrava em RC.
Conclusão: O Daratumumab, utilizado no tratamento de doentes com MM, pode interferir na interpretação da EPS e da IMFx e, levar a uma tradução errónea dos resultados laboratoriais, subestimando RCs, pela ausência da sua confirmação.
O recurso à IMFx com anti-soro específico anti-Daratumumab constitui uma mais-valia na avaliação laboratorial destes doentes, permitindo distinguir se o componente monoclonal observado na EPS e IMFx se deve à doença ou à terapêutica instituída, e assim confirmar se o doente apresenta uma RC ao tratamento.

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