RASTREIO DE ENTEROBACTERALES PRODUTORAS DE CARBAPENEMASES (EPC): SERÁ O CYCLE THRESHOLD UMA FERRAMENTA ÚTIL PARA PREDIZER O RESULTADO DO EXAME CULTURAL?
Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 040
Autores e Afiliações:
João A. Pinto, Edgar Botelho Moniz.
Serviço de Patologia Clínica – CHUSJ
Introdução: As Enterobacterales produtoras de carbapenemases (EPC) são um sério problema de saúde pública. O rastreio dos doentes colonizados e o isolamento de contato são duas medidas cruciais para controlar a propagação deste tipo de microrganismos. Por esse motivo, no nosso hospital, os doentes internados são sistematicamente rastreados.
Objetivos e Metodologia: O nosso protocolo laboratorial para rastreio EPC consiste primariamente num teste molecular (Xpert® Carba-R). Sempre que o rastreio molecular é positivo, segue-se um exame cultural complementar que possibilita a identificação fenotípica da estirpe, nomeadamente a nível de resistências aos antimicrobianos. O teste molecular utiliza a reverse transcription polymerase chain reaction (RT-PCR) para identificar os alvos moleculares das carbapenemases KPC, OXA-48, VIM, NDM e IMP-1. O resultado é interpretado automaticamente, e os valores de cycle threshold (CT) são fornecidos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a hipótese de existir uma correlação entre o CT do rastreio molecular e o resultado do exame cultural complementar. Essa hipótese é plausível, pois existe uma conhecida correlação inversa entre o CT e a quantidade de ácidos nucleicos presentes numa amostra. Quando um ensaio molecular é devidamente calibrado, é possível quantificar em escala internacional, sendo este procedimento amplamente utilizado em situações específicas. No entanto, mesmo na ausência de calibração quantitativa do ensaio (como é o caso), é possível extrapolar com base no CT. Assim, aplicando estes conceitos ao nosso protocolo de rastreio EPC, teoricamente poderia ser possível encontrar um CT cut-off que se correlacionasse com o resultado do exame cultural. Para a realização deste estudo utilizámos os dados do rastreio EPC do nosso hospital. De modo a padronizar a análise, excluímos as amostras em que foram detetadas duas ou mais carbapenemases. Foram incluídas 238 amostras moleculares positivas, processadas entre Janeiro de 2019 e Julho de 2022 (18 meses). Comparámos dois cenários com base no CT: 1) crescimento cultural positivo (CPos) versus negativo (CNeg); 2) entre os casos CPos, comparámos os isolados de K. pneumoniae versus outros microrganismos.
Resultados: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. O intervalo CT dos casos CPos (n=135) foi 17,6-36,9 (média: 28,03), enquanto nos casos CNeg (n=103) foi 24,1-38,0 (média: 32,43). A dispersão dos resultados CPos versus CNeg num gráfico boxplot é sobreponível. Também não foram encontradas diferenças significativas entre os isolados de K. pneumoniae (n=110) (intervalo CT: 17,7-36,7) e de outros microrganismos (n=25) (intervalo CT: 17,6-36,9).
Conclusões: Verificou-se que, entre as amostras moleculares positivas para EPC, aquelas que, subsequentemente, tiveram crescimento cultural positivo (CPos) têm valores de CT inferiores aos das amostras sem crescimento cultural (CNeg). No entanto, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Apesar das limitações deste estudo, caso tivéssemos encontrado uma diferença significativa, tal poderia justificar uma mudança no nosso protocolo laboratorial. Hipoteticamente, as amostras com CT superiores a um determinado cut-off deixariam de ser processadas para exame cultural. Como nenhuma correlação foi estabelecida, optamos por continuar a cultivar todas as amostras moleculares positivas.