SÍNDROME HIPEREOSINOFÍLICO IDIOPÁTICO – UM RARO DIAGNÓSTICO DE EXCLUSÃO

Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica

Poster Número: 036

Autores e Afiliações:

Elisete Garcia, Carlos Seabra, Cláudia Fidalgo.

Serviço de Patologia Clínica – CHBV 

Introdução: As síndromes hipereosinofílicas (SHE) são caracterizadas por eosinofilia >1,5 x109/L que persiste mais de um mês e/ou infiltração tissular eosinofílica, acompanhada de disfunção orgânica, nomeadamente dermatológica, pulmonar, gastrointestinal, cardíaca ou neurológica. Formas mais agressivas apresentam risco vital e necessitam de tratamento emergente. As SHE classificam-se como secundárias, primárias e idiopáticas. A produção de eosinófilos na medula óssea (MO) é estimulada por citocinas (Interleucina-5 (IL5), IL3 e granulocytemacrophage colony-stimulating factor (GM-CSF)) em reações alérgicas, parasitoses, doenças auto-imunes, alguns linfomas ou outras neoplasias. As SHE primárias estão associadas a alterações somáticas adquiridas envolvendo genes como PDGFRA (platelet-derived growth factor receptor alpha), PDGFRB (platelet-derived growth factor receptor beta) ou FGFR1 (fibroblast growth factor receptor 1), que originam proteínas de fusão com atividade tirosina quinase. As doenças mieloproliferativas crónicas também podem causar eosinofilia clonal mas raramente esta é a componente proliferativa principal.
Relato de caso: Mulher de 26 anos, com antecedentes de asma, alergia ao metamizol, pelo de gato, pólen e poeira, e linfoma de Hodgkin aos 11 anos tratado com quimioterapia. Medicada com formoterol e budesonido. Referia prurido, pirose e epigastralgias com alguns dias de evolução, sem resposta a anti-histamínicos e corticoides. Referia viagem recente ao Brasil. Apresentava edema facial no exame físico. Analiticamente, destaca-se leucócitos 30.3 Å~109/L, eosinófilos 16.87 Å~109/L, neutrófilos 7.98 Å~109/L e linfócitos 4.30 Å~109/L. Esfregaço de sangue periférico confirmou eosinofilia. LDH 470 U/L e PCR 1.57mg/dL. Ecografias cervical e abdominal e tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica normais. PET sem focos hipermetabólicos. Medulograma revelou hiperplasia eosinofílica (51% do total de células nucleadas) sem outras alterações maturativas, confirmada pela imunofenotipagem, e pela biópsia da MO. O cariótipo e pesquisa de genes de fusão (BCR-ABL; FIP1L1-PDGFRA) não revelou alterações. O estudo do rearranjo do recetor de linfócitos T não mostrou expansão clonal. Diversas patologias infeciosas e alérgicas foram investigadas e excluídas: realizou serologias para Vírus imunodeficiência humana, hepatite B e C, Toxoplasmose, Sífilis e Herpes simplex vírus-2 negativas; e positivas (IgG) para Citomegalovirus, Virus Epstein-Barr e Herpes simplex vírus-1. Pesquisa de antigénicos de Criptosporidium parvum e Giardia lamblia negativos e anticorpos IgG contra Toxocara canis e Strongyloides stercoralis não reativos. Exame bacteriológico e parasitológico de fezes negativos; painel de infeções gastrointestinais negativo e exame parasitológico de urina negativo. IgE total 514 UI/mL, IgE Específicas (painel multi 112 alergénios) positivo para alergénios inespecíficos. Estudo do complemento c1 e triptase sérica basal normal. Para o estudo de lesão de órgão alvo realizou espirometria, ecocardiograma transtorácico, eletrocardiograma e endoscopia digestiva baixa e alta sem alterações; as biópsias revelaram mucosa cólica com ligeiro infiltrado inflamatório linfoplasmocitário e rico em eosinófilos. Respondeu clínica e laboratorialmente a corticoides em alta dose, mas recidivou com diminuição da dose. Não respondeu a albendazol e ivermectina, nem à terapêutica adjuvante com azatioprina e imatinib. Atualmente, aguarda aprovação de tratamento com mepolizumab, um inibidor de IL5.
Conclusão: Trata-se de um caso raro de SHE idiopática com atingimento de órgão (cólon e pele) refratário aos tratamentos convencionais. O objetivo terapêutico é reduzir a hipereosinofilia e disfunção orgânica, com o mínimo de iatrogenia.

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