SUBESPÉCIES DO COMPLEXO MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS EM CIRCULAÇÃO EM PORTUGAL
Evento: XII Congresso Nacional de Patologia Clínica
Poster Número: 009
Autores e Afiliações:
Sónia Silva, Sofia Carneiro, Irene Rodrigues, Andrea Santos, Rita Macedo.
Laboratório Nacional de Referência de Micobactérias, Departamento de Doenças Infecciosas, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Introdução:
A tuberculose (TB) é um problema mundial de saúde pública e, de acordo com a OMS, uma das principais causas de morte por doença infeciosa. Esta doença, que afeta animais e seres humanos, transmite-se pessoa a pessoa por via aérea e pode ser causada por várias espécies de micobactérias pertencentes ao complexo Mycobacterium tuberculosis (MTC): Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium bovis (M. bovis spp bovis, spp caprae e BCG), Mycobacterium africanum, Mycobacterium caprae, Mycobacterium microti, Mycobacterium pinnipedii e ainda Mycobacterium canetti. Destas espécies, as mais patogénicas para o homem são M. tuberculosis e M. bovis. O diagnóstico precoce da doença e o conhecimento do perfil de resistências a antibacilares são fatores de crucial importância para a escolha do regime de tratamento e, consequentemente, para o seu sucesso. No entanto, tendo em conta que:1) o diagnóstico laboratorial de TB é muito demorado; 2) as culturas quando positivas são identificadas apenas a nível do complexo MTC; 3) determinadas subespécies de MTC têm resistências intrínsecas (por exemplo M. bovis é intrinsecamente resistente à pirazinamida); 4) na maioria dos casos, o doente inicia terapêutica empírica antes da confirmação laboratorial do caso; é fundamental percebermos que subespécies de MTC estão a circular para garantir a eficácia desta terapêutica que é habitualmente instituída.
Objetivos e metodologia: Este trabalho teve como objetivo determinar quais as subespécies pertencentes ao complexo MTC a circular em Portugal. Entre 2019 e 2022 foram isoladas 927 estirpes de MTC no Laboratório Nacional de Referência de Micobactérias (LNR-TB) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Destas, foram selecionadas de forma aleatória 20 estirpes por ano para caracterização subsequente. A identificação das estirpes de MTC é feita na rotina laboratorial recorrendo a metodologias imunocromatográficas (Capilia TB-Neo, TAUNS Laboratories, Inc). Para a diferenciação do complexo MTC foram utilizadas metodologias moleculares, nomeadamente o Kit MTBC (HAIN) e sequenciação do gene hsp65, de acordo com protocolos anteriormente definidos.
Resultados: 72.7% (56/77) dos doentes eram do sexo masculino, com idades entre 17 e 73 anos (média de idade 47 anos). Do total das 78 estirpes de MTC foi possível classificar 74 como pertencentes à subespécie M. tuberculosis (95%) e quatro como subespécie M. africanum (5%). Estas quatro estirpes foram isoladas de doentes emigrantes, de nacionalidade africana, podendo provavelmente tratar-se de casos de TB importados.
Conclusão: Este trabalho permitiu verificar que a maioria dos isolados de MTC pertencem à subespécie M. tuberculosis, validando a metodologia de screening laboratorial actualmente usada e que apenas identifica o complexo MTC, não permitindo a especiação e, consequentemente, o esquema terapêutico empírico que é atualmente usado em Portugal. Sugerimos que sejam feitas avaliações similares periódicas de forma a garantir que o perfil das estirpes circulantes se mantém e não há surgimento de novas estirpes com possíveis resistências intrínsecas que possam comprometer os tratamentos e, consequentemente, o controlo da TB em Portugal.